Grupos de defesa dos direitos humanos condenam a actuação das autoridades, depois da detenção de um jornalista investigativo e um líder da oposição em Harare, nas vésperas de um protesto anti-corrupção.
O político Jacob Ngarivhume vinha lançando apelos a uma manifestação nacional a 31 de Julho contra o Governo do Presidente Emmerson Mnangagwa pela incapacidade de lidar com as dificuldades económicas e a corrupção no Executivo.
Já o jornalista Hopely Chin’ono foi detido depois de divulgar a alegada atribuição de contratos no valor de 60 milhões de dólares pelo Ministério da Saúde a várias empresas por materiais de combate à Covid-19 a preços inflacionados, incluindo equipamento de protecção pessoal. Ambos são acusados de incitamento à violência pública.
As críticas
O porta-voz da Amnistia Internacional na África Austral, Robert Shivambu, diz que os dois devem ser imediatamente libertados e acusa: “A detenção visa intimidar e enviar uma mensagem a jornalistas, denunciantes e activistas que chamam a atenção para questões que interessam ao Zimbabwe”.
Shivambu entende ainda que “as autoridades devem parar de usar o sistema judicial de forma abusiva para perseguir jornalistas e activistas que estão apenas a exercer o seu direito à liberdade de expressão e de reunião. As autoridades têm de parar de usar os relatórios da polícia para silenciar a dissidência”.
E por isso o porta-voz da ONG exige: “As autoridades têm de libertar imediata e incondicionalmente Chin’ono e Ngarivhume, porque não cometeram nenhum crime e ninguém deve ser detido por protestar de forma pacífica e denunciar suspeitas de corrupção”, exige ainda o colaborador da ONG.
Críticas do partido no poder
A polícia, no entanto, diz ter provas suficientes e que os dois detidos devem responder perante a justiça. Tafadzwa Mugwadi, porta-voz do ZANU-PF, partido no poder, critica os defensores do jornalista e do político da oposição.
“Aqueles que pedem a libertação de Hopely Chin’ono e Jacob Ngarivhume estão a tentar intimidar as nossas instituições e certamente não vão conseguir. As nossas instituições não prendem criminosos para os libertar a seguir. Prendem-nos para os levar ao sistema judicial, para que a justiça prevaleça”, afirma.
E Tafadzwa Mugwadi: “As mesmas pessoas que estão a apelar à libertação dessas duas figuras, que estão a apelar a uma manifestação enquanto estão em vigor as medidas de confinamento para travar a Covid-19 são as mesmas que os aplaudiam enquanto cometiam crimes em plena luz do dia.”
Aumento da tensão
Centenas de pessoas, incluindo jornalistas, advogados, médicos e enfermeiros foram detidas nos últimos meses no Zimbabwe por protestarem, fazerem greve por melhores salários ou, em alguns casos, simplesmente por fazerem o seu trabalho, enquanto a tensão aumenta no país.
Esta terça-feira (21.07), o Presidente Emmerson Mnangagwa impôs um recolher obrigatório e reintroduziu medidas rigorosas para travar a propagação do coronavírus, depois de um aumento acentuado do número de casos nas últimas semanas. As novas medidas proíbem efectivamente o protesto contra a corrupção do Estado marcado para 31 de Julho.