A Igreja Católica considera ‘paliativa’ a intervenção do Governo no combate à seca (cíclica), sobretudo na região Sul do país, enquanto as autoridades anunciam disponibilizar três mil milhões de Kwanzas para travar os efeitos das alterações climáticas.
O bispo da diocese de Ondina (Cunene), Dom Pio Hipunyati, considera existir falta de vontade política de quem governa, para a resolução do problema da seca, que afecta mais de um milhão de pessoas na região Sul de Angola, com realce para a província do Cunene. O clérigo que falava em exclusivo para OPAÍS, classificou a situação actual de insustentável e recorrente naquela região, deixando várias famílias do meio rural em condições de extrema pobreza e de desnutrição severa.
“Estamos cansados de receber alimentos básicos e água mineral trazida por helicópteros. Isso só acontece quando o Governo ouve que estão a morrer pessoas, é assim todos os anos”, sublinhou Hipunyati, para quem estas medidas são intervencionistas, ao invés de serem sustentáveis. O bispo tomou como exemplo a seguir, a política do Governo da República vizinha da Namíbia, quanto ao aproveitamento e reserva hídrica para catapultar a agricultura e garantir a segurança alimentar.
“Não se acredita que a imitar os do país vizinho não se consegue. Eles tiram água do rio Cunene, região fronteiriça de Ruacaná, no Cunene, e nesta mesma região morrem pessoas devido à seca”, referiu. Nas províncias do Cunene e da Huíla, aproximadamente 68% dos agregados familiares dedicam-se à agricultura, especificamente à plantação de cereais (massango e massambala), sendo igualmente a pecuária um importante meio de sustento, com destaque para o gado bovino.
Segundo os últimos números fornecidos pelo Governo angolano, actualmente existem mais de 1.139.064 pessoas afectadas pela seca nas três províncias.
Três mil milhões de kwanzas para travar a seca
O ministro angolano da Energia e Água, João Baptista Borges, anunciou, esta semana, medidas para a implementação de projectos que visam combater a seca que atinge a região do Cunene, nos últimos anos. Segundo o titular da pasta, o Executivo traçou vários projectos para serem concretizados nos próximos meses, visando essencialmente aliviar os efeitos negativos da seca que afectam as populações do Sul de Angola, em particular da província do Cunene.
Entre as medidas a serem implementadas nos próximos meses, apontou a construção de duas barragens hídricas, no Cuvelai, para acumular água para o consumo das populações, criação de condições para a criação do gado, bem como para irrigação dos campos agrícolas.
Outro projecto, segundo o ministro, está ligado à construção de um transvaze do Cafu para a área da Oshanas, levando a água às comunidades afectadas pela catástrofe, através de condutas. Neste sentido, aquele ministério procederá ao lançamento de um concurso público, para adjudicação da empreitada, realçando que o projecto será implementado dentro de três anos, sem anunciar o valor monetário a ser investido. “As soluções serão técnicas e de engenharia, que passarão pela transferência de caudais, com a retirada de água das zonas com alguma abundância para zonas com grandes défices” referiu o dirigente.