Comunidade dos Estados da África Oriental não adiantou quem participa na reunião para pôr fim à violência armada no leste da RDC. Confrontos geraram tensão com o Ruanda. Angola reforça apelo a solução política.
As negociações de paz relativas à situação na República Democrática do Congo (RDC), palco de confrontos de vários grupos armados, devem começar em 21 de novembro em Nairobi, anunciou este domingo (13.11) a Comunidade dos Estados da África Oriental (CEA).
Uma recente ofensiva do grupo M23, antiga rebelião tutsi, que recuperou o uso das armas no final de 2021, viu um grupo avançar em direção a Goma, capital da província de Kivu do Norte, com mais de um milhão de habitantes, e está a alimentar as tensões entre a República Democrática do Congo e Ruanda. Kinshasa acusa Kigali de apoiar o M23, o que é negado pelas autoridades ruandesas.
“A próxima de sessão de diálogo de paz sobre a situação no leste da RDC está prevista para acontecer em 21 de novembro em Nairobi”, capital do Quénia, anunciou a CEA, num comunicado publicado na rede social Twitter, sem especificar quem são os participantes.
“A busca da paz no leste da RDC continua a ganhar ímpeto como prioridade regional máxima, com o Facilitador do Processo de Paz liderado pela CEA no Leste da RDC, Uhuru Kenyatta, decidido a realizar consultas de alto nível com o Presidente da RDC a 13-14 de novembro”, acrescenta a comunidade.
O facilitador pela paz no leste da RDC da CEA, o ex-Presidente queniano Uhuru Kenyatta, e o Presidente do Burundi, Evariste Ndayishimiye, chegaram este domingo a Kinshasa para uma visita de dois dias.
PR de Angola pede “solução política”
A nova violência do M23 provocou uma tensão renovada entre a RDC e Ruanda, acusados por Kinshasa, desde o início do ano, de apoiar ativamente esta rebelião.
As iniciativas diplomáticas multiplicam-se na tentativa de resolver o conflito. O Presidente de Angola, João Lourenço, que preside à Conferência Internacional das Regiões dos Grandes Lagos, encontrou-se na sexta-feira com o seu homólogo ruandês, Paul Kagame, e, no sábado, com o chefe de Estado congolês, Félix Tshisekedi, a quem apresentou “propostas concretas”, segundo o ministro das Relações Exteriores de Angola, Téte António.
No final das reuniões, Angola reforçou o apelo a uma solução política para ultrapassar tensões entre o Ruanda e a República Democrática do Congo. Citado pelo Jornal de Angola, o chefe da diplomacia afirmou aos jornalistas que “todos concordam que o Roteiro de Luanda é a saída política” indicada.
Sem querer detalhar as discussões que decorrem entre Kigali e Kinshasa, Téte António adiantou que o chefe de Estado angolano apresentou “propostas concretas para as partes analisarem no momento apropriado e verem como podem avançar”.
João Lourenço, mandatado pela União Africana, tem estado a levar a cabo um processo de mediação para pôr termo aos conflitos entre a RDC e o Ruanda e restabelecer a paz no leste da RDC.
Readaptação do Roteiro de Luanda para a Paz
Segundo a agência de notícias angolana, Angop, as alterações verificadas no terreno com o agravamento da tensão entre os dois países levaram Angola a propor uma readaptação da metodologia prevista no Roteiro de Luanda para a Paz, adotado durante uma cimeira tripartida realizada na capital angolana em junho deste ano, visando impulsionar a sua implementação.
Ainda no quadro deste instrumento, Téte António confirmou ter apresentado, na quarta-feira, em Goma, capital da província oriental congolesa do Kivu do Norte, o general angolano que vai liderar o Mecanismo de Verificação Ad-Hoc do processo de paz na região leste da RDC. Trata-se do tenente-general Nassone João, cuja equipa terá, entre outras atribuições, apurar no terreno a veracidade das acusações reciprocamente levantadas pelas partes para melhor identificar as soluções apropriadas, refere a agência noticiosa angolana.
A Presidência da República de Angola adianta, na sua página de Facebook, que “iniciativas diplomáticas vão continuar a ser desenvolvidas em torno da crise de segurança que se instalou no Leste da República Democrática do Congo, com acusações mútuas entre Kigali e Kinshasa”.
DW