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Domingo, Novembro 24, 2024

Vendas paralelas afectam receitas nos mercados da Maianga

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FONTE:ANGOP

Embora com condições dignas e bancadas personalizadas, infelizmente muitas vendedoras dos principais mercados do distrito urbano da Maianga insistem em fixar-se na parte exterior desses estabelecimentos, por alegadamente serem mais rentáveis.

Por João Damba

Em contrapartida, na ânsia do lucro fácil e da interpelação dos clientes à porta dos mercados, as comerciantes produzem enorme lixeira e desordem ao redor destas infra-estruturas e influenciam na redução das receitas, apurou a ANGOP, na sequência de uma reportagem.

A preferência pelo exterior acaba por provocar congestionamento de viaturas nas ruas circundantes e propiciar roubos a transeuntes e clientes, bem como assaltos a camiões e carrinhas, conforme relato de moradores e de frequentadores destes mercados.

Por exemplo, o Mercado do Catinton, o maior do distrito da Maianga, regista movimento diário de mais de cinco mil utentes, entre vendedores e clientes, e é também uma fonte de rendimento para trabalhadores ocasionais, mormente motoqueiros e roboteiros.

Trata-se de um quintalão que alberga dois mercados, nomeadamente o do Catinton propriamente dito (tutelado pelo Estado) e o do 1.º de Agosto (maior e mais organizado), propriedade da EF-Comercial e aberto ao público neste dia do ano 2006. Os dois estão interligados por um portão.

O Mercado do 1.º de Agosto comporta 14 naves cobertas, duas mil 835 bancadas fixas (na sua maioria desocupadas), 70 cozinhas e 16 armazéns. Caracteriza-se, essencialmente, pela comercialização de refeições, bebidas, roupas, electrodomésticos, louças, material didáctico, entre outros bens.

Já o ‘Novo Catinton’ possui quatro naves e é mais vocacionado à venda de produtos do campo, como frutas, hortaliças, bombó e carvão, geralmente provenientes do Cuanza-Norte, Cuanza-Sul, Malanje, Benguela, Huambo, Huíla e Bié.

Pela ocupação diária, os vendedores do Mercado do 1.º de Agosto pagam uma taxa de 150 kwanzas, enquanto os camionistas 50 Kz por cada caixa de produto, informa a sua administradora, Kátia Bernardo.

“Dentro do mercado, muitas bancadas estão vazias, porque grande parte das vendedoras prefere vender nas ruas, o que é mau, sujam muito e afectam a entrada das receitas, uma vez que não pagam”, lamenta, apelando à intervenção da Administração da Maianga.

A responsável explica que a preferência pelas ruas se tornou no principal concorrente, fazendo que a receita diária dos mercados varie entre 700 e 850 mil Kz, quando podia estar acima dessa cifra, como há algum tempo.

Quanto à limpeza do espaço, diz ser feita ao domingo pela empresa Sapcil, que se encarrega da manutenção e do saneamento, enquanto a vigilância e a segurança estão a cargo da Jopal, que tem no local uma equipa de 25 efectivos que colaboram com a Polícia Nacional.

Antigo Parque do Rocha Pinto

No antigo Mercado do Parque do Rocha Pinto, igualmente a céu aberto, com apenas duas naves cobertas, o que mais se vende são sacos de cebola, alho, batata-rena, tomate e alguns animais domésticos, como ovelha, porco, cabra e galinha.

Comparando com o Catinton, nessa pequena estrutura privada a clientela é mais reduzida, visto que as vendas são mais a grosso e protagonizadas, na maioria, por cidadãos oriundos do Oeste de África (Mali, Benin e Senegal) e de outras partes do continente berço (RD Congo e Congo).

No estabelecimento, não há fiscais veterinários para acautelarem a venda de animais com hipotéticas doenças, dada a natureza do negócio prevalecente. Contudo, existe harmonia e bom intercâmbio entre os comerciantes nacionais e estrangeiros.

Ainda assim, nota-se a despreocupação dos vendedores com o cheiro nauseabundo, já característico, provocado por produtos apodrecidos no recinto, como cebola, alho e outros hortofrutícolas, não obstante a permanente higienização do espaço.

Tal como no quintalão do Catinton, também há muita gente a vender produtos na parte exterior por ‘fuga ao fisco’, o que origina agitações diárias nas ruas circunvizinhas, sobretudo na via principal de acesso, que carece de reabilitação urgente.

Mercado da Madeira

O Mercado da Madeira está situado no Gamek à esquerda e tem perdido clientes e vendedores, devido a um enorme buraco agravado pelas águas da chuva e residuais das moradias. Essa situação levou à colocação de um ponteco de chapa, para facilitar a entrada das pessoas.

Está mais virado para a venda de materiais de construção civil, dominada por mulheres. No estabelecimento, vendem-se cimento cola, mármore, peças sanitárias, azulejo, tinta, alcatrão, parafusos, materiais eléctricos, de canalização, de mecânica e mosaico.

Em virtude do buraco supracitado, a maior parte dos automobilistas que se direccionam para esta praça estaciona as viaturas antes ou no próprio charco, forçando os estivadores a pisar nas águas sujas e infectadas, sob todos os riscos de contraírem doenças perigosas.

“Devido a estas condições, regista-se pouca presença de clientes”, afirma Rebeca Nsimba, vendedora de mármore, que pede também a intervenção da Administração do Distrito da Maianga, para tapar o buraco e terraplenar a via, no mínimo.

Já Antónia Tavares, comerciante de tinta, declara que, há cinco anos, viveram os “chamados bons tempos”, mas, nestes últimos dois, as vendas reduziram muito e passaram a ter dificuldades de contribuir para a manutenção do mercado.

Face à natureza dos meios comercializados, a praça é higiénica e está devidamente subdividida em secções de vendas por produtos.

Mercado dos Cabo-Verdianos

O Mercado dos Cabo-Verdianos foi uma das referências do distrito da Maianga, muito frequentado no tempo colonial e nos primeiros anos da Independência de Angola. Também é conhecido como Mercado do Prenda e tornou-se famoso porque, na época, era dominado por comerciantes oriundos de Cabo Verde.

Entretanto, hoje, praticamente só ficou o nome, havendo no mercado uma desordem total. Para sobreviverem, as pessoas passaram a comercializar bebidas, roupas e bens alimentares nas ruelas do interior do bairro, contrariando a sua matriz inicial (venda de peças de ouro, prata e outras bijutarias).

Localizado junto ao retorno do Hospital do Prenda, para quem sai da Samba, no espaço não se vêem filas organizadas. Não há fiscais, nem se fazem cobranças, dado que o recinto praticamente ‘morreu’ e deu lugar ao Mercado do Prenda, com novos ‘inquilinos’.

São vendas tão desordenadas que ofuscam a existência de moradias em tais ruelas, com roupas de fardos colocadas em muros de quintais, envolvendo, ilegalmente, crianças no atendimento directo ou carregando mercadorias e sacos dos clientes, como forma de auto-emprego.

Mercado da Teixeira

O Mercado da Teixeira é um espaço organizado e limpo, situado na zona do Cassequel, na fronteira com os bairros Malanjino e Neves Bendinha, ambos pertencentes ao município do Kilamba Kiaxi. Nesse estabelecimento, algumas quitandeiras estendem os negócios ao longo da vala de drenagem, aumentando a produção de lixo.

Abordado, o assistente do responsável do local, Soares Mateus, informa que são as senhoras que mais protagonizam a venda fora do mercado, particularmente as comprometidas com o peixe fresco.

“A situação agravou-se recentemente com a morte de uma senhora, protagonizada por um agente da Polícia, o que levou as vendedoras de peixe a abandonar o mercado para aderir em massa às ruas, onde também já não há actuação das autoridades policiais e dos fiscais”, explica.

Apesar disso, Soares Mateus apela às senhoras para voltarem a vender no Mercado da Teixeira, ocupando as 300 bancadas disponíveis. Actualmente, apenas estão ocupadas menos de 150. Para o efeito, os comerciantes pagam, também, uma taxa diária de 150 Kz, depois de estarem catalogados.

Neste mercado, comercializam-se, sobretudo, bens da cesta básica como óleo, massa alimentar, arroz e outros produtos. Sem especificar, o interlocutor diz que o mesmo regista, igualmente, baixas nas suas receitas diárias, em consequência das vendedoras que optam pela parte exterior.

“Eu, particularmente, sinto-me melhor fora, uma vez que vendo peixe da moraia e não congelado, pois é um produto que deve ser sempre molhado. E como dentro não há esgoto e dizem que cheira mal, então prefiro ficar fora”, justifica-se Conceição Francisco.

Argumenta que as peixeiras já solicitaram, há muito, à administração do mercado para colocar esgotos ou sarjetas, mas até agora nada, e as senhoras sentem-se agastadas e sem alternativas.

Já Lúcia João, vendedora de legumes no interior, salienta que, dentro da praça, se vende melhor, devido às condições higiénicas, embora outras colegas ainda persistem em vender à beira da estrada. “O mercado é pequeno, mas devemos ter consciência e colaborar com o Estado”, aconselha.

Com estas vendas paralelas e indiferença dos comerciantes, nos últimos meses, a produção de lixo pelas vendedoras de fora tem sido maior, aumentando, inclusive, a responsabilidade da administração do mercado em tratar da limpeza do estabelecimento.

Desafios da Administração do Distrito

Diante do cenário descrito, urge a intervenção da Administração do Distrito da Maianga para melhorar as principais vias de acesso a estes locais, com armazéns e lojas nos dois lados, bem como para combater as vendas desordenadas em frente e à volta dos mercados, os amontoados de lixo e o mau cheiro.

A propósito, o administrador do distrito da Maianga, José Castro, adianta estar-se a fazer pressão para a intervenção na rua principal de acesso ao Mercado do Catinton, que parte da perpendicular da Avenida 21 de Janeiro até ao Cassequel do Buraco, passando por detrás do Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro.

O responsável recorda que, por ser administração distrital, não faz asfaltagem, senão terraplanagem, tapa-buracos e outros serviços de manutenção, com o apoio de certas empresas, como a ENCIB, sendo que os demais problemas são da responsabilidade do Governo da Província de Luanda.

“Se houvesse alguma autonomia financeira e administrativa, no âmbito dos projectos do PIIM e de Combate à Fome e à Pobreza, mais facilmente a administração poderia dar resposta aos problemas apresentados. Ainda assim, a Maianga está a beneficiar de muitas obras”, refere.

Sobre as necessidades, os vendedores (entre homens e mulheres) queixaram-se, também, da falta de sanitários públicos, nalguns casos, e de contentores no interior e à volta dos mercados, assuntos que a administração promete resolver.

“O objectivo é oferecer maior conforto e dignidade às pessoas, e isso o Governo Provincial de Luanda está a fazê-lo paulatinamente”, frisa, esclarecendo que o distrito depende da Administração Municipal da Maianga que, às vezes, delega algumas competências ou tarefas.

Para além destes locais, na Maianga existem outros espaços oficiais de venda que não atraem muitos clientes, como o Mercado Popular, na 21 de Janeiro (estrutura física), do Chabá (arredores do CODENM), do Jumbo (por detrás do supermercado com o mesmo nome) e do Mártires, todos improvisados.

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