Em extensa entrevista ao Correio Angolense, o líder do Galo Negro adverte, no entanto, para armadilhas do regime, que sempre “tratou de comprar consciências, pagando bem a algumas lideranças partidárias e a alguns protagonistas da sociedade civil”
Com a legalização do PRA-JA bloqueada pelo Tribunal Constitucional, Abel Chivukuvuku já desenha atalhos alternativos para se manter politicamente activo.
Há pouco mais de uma semana, mostrou-se favorável à criação de uma coligação para enfrentar o MPLA nas próximas eleições gerais.
No final de uma mesa redonda promovida pela organização internacional “Friends of Angola” (FoA), ele manifestou-se disponível para, nas próximas eleições gerais de Angola, em 2022, participar de uma possível coligação dos partidos da oposição, a qual disse não fazer questão de liderar.
Esta semana, entrevistado pela Rádio Ecclésia, Chivukuvuku reiterou abertura a uma coligação na qual caberia, também a UNITA, organização a que pertenceu por mais de 30 anos.
“Não fecho portas a ninguém, inclusive à UNITA”, disse.
Nessa entrevista, Chivukuvuku deixou, no entanto, bastante claro que a sua abertura não é extensiva ao MPLA.
Na UNITA, a criação de uma coligação com Abel Chivukuvuku e outras forças não criaria qualquer trauma ou fissura.
Em entrevista ao Correio Angolense, o líder do “Galo Negro”, Adalberto da Costa Júnior, sublinha que “nas linhas de força da minha candidatura à liderança da UNITA e depois na Moção de Estratégia apresentada ao Congresso propus-me exactamente a liderar a construção de uma frente democrática para a alternância do poder”.
Estas ideias foram diariamente transmitidas e retomadas permanentemente nas nossas comunicações políticas. Foi interessante ouvir de outras lideranças o mesmo propósito”.
Para Adalberto da Costa Júnior, a criação dessa putativa coligação seria benquista.
“O desafio coloca-se na construção dessa ampla frente democrática, que não se esgota na aliança dos partidos. Ela deve ter em conta o envolvimento da sociedade civil”.
O líder da UNITA adverte, no entanto, para os escolhos que se colocariam a uma tal coligação.
“Um olhar para o passado deixa-nos uma realidade: o regime tratou sempre de comprar consciências, pagando bem a algumas lideranças partidárias e a alguns protagonistas da sociedade civil. Agiu assim ontem e certamente o seu DNA não se alterou e fará o mesmo”.
Não obstante, ele mostra-se “convencido que os cenários estão mais favoráveis à construção desta frente, que também é o sonho da maioria dos cidadãos que estão cansados dos 45 anos de governação do mesmo partido”.
Nessa entrevista ao Correio Angolense, Adalberto da Costa Júnior deixou claro que, para a UNITA, os resultados das eleições de 2017 estão longe de ser página virada. A organização do Galo Negro tem como fraudulenta a vitória do MPLA no último pleito eleitoral.
“Nas eleições de 2017 a UNITA ganhou sem qualquer dúvida na maior praça eleitoral, em Luanda e sabemos o quanto tem de factor multiplicador cada deputado eleito em Luanda. Os resultados em 2017 foram publicados sem que o centro nacional de escrutínio tivesse funcionado, pois os representantes dos partidos passaram a noite lá sentados e as 22h os escrutinadores foram mandados para casa.
Na manhã seguinte os resultados foram anunciados! As eleições de 2017 tiveram as seguintes características: desapareceram dos ficheiros eleitorais mais de 2,5 milhões de eleitores EM RELAÇÃO AO FICHEIRO DE 2012; todos os comícios da pré-campanha eleitoral e os da campanha foram organizados pelos chefes das forças de defesa e segurança (O General Chefe da casa militar do Presidente da República, o Comandante Geral da Polícia e o Chefe do Estado Maior das FAA organizaram localmente todos os comícios) e foi a logística militar que transportou, como se de animais se tratassem, as populações para encherem os comícios, bem como militares de alguns quartéis a quem obrigaram a vestirem camisolas do partido de regime; os processos remetidos aos tribunais com elementos de prova foram todos recusados e arquivados; a UNITA remeteu um processo de corrupção eleitoral contra o candidato João Lourenço; no final o Tribunal Constitucional também recusou analisar o contencioso eleitoral, anulando votos válidos que não tinham sido contabilizados e que elegeriam deputados!
Um escândalo. Na verdade, se não for efectuada uma reforma da Lei da CNE que retire a maioria absoluta de Comissários indicados pelo MPLA, será praticamente impensável termos eleições justas e transparentes em Angola.
Este é um problema que deveria preocupar todos os cidadãos deste país, pois é este sistema artificial que constrói as maiorias qualificadas que criam arrogância aos governantes, protegem a corrupção, controlam o poder judicial e têm mantido no poder um governo que não presta contas, como deveria, ao povo soberano”.
Quando questionado sobre as razões que levaram a UNITA a aceitar resultados que contestava, Adalberto Costa Júnior esclarece:
“Nós sabíamos que as forças de defesa e segurança tinham sido colocadas em prevenção máxima e havia uma ameaça real de poderem sair à rua com consequências imprevisíveis. Também havia uma elevada franja de cidadãos, na sua maioria jovens, inconformados e reactivos perante os resultados e prontos a ir para a rua.
Estava criado um cenário de elevado risco. O Mv (Mais Velho) Samakuva tomou uma difícil decisão, com o único propósito de evitar um muito provável banho de sangue! Penso que ele esteve bem, mas nós não podemos voltar a repetir um cenário idêntico”.
Para a UNITA, não está afastado o risco de novas “fraudes” nas futuras eleições mesmo porque, segundo o seu líder, “a figura do actual Presidente da CNE não garante nem a isenção, nem a responsabilidade, nem o equilíbrio e mesmo a idoneidade exigidas a um personagem que vai conduzir os processos eleitorais. Nem a UNITA e certamente que também não colhe sequer a confiança e a credibilidade da sociedade”.