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Sexta-feira, Novembro 22, 2024

Três quartos das mulheres jornalistas foram vítimas de violência online

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Um relatório Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) divulgado esta sexta-feira (30), indica que 73 por cento das mulheres jornalistas já sofreram violência “online”, incluindo ameaças de violência física e sexual, dados que mostram como as mulheres são limitadas na sua liberdade de expressão.

O relatório “The Chilling: Global trends in online violence against women journalists”, em português “O arrepio: tendências globais na violência online contra mulheres jornalistas” foi divulgado UNESCO de forma a assinalar o Dia de Liberdade de Imprensa que se celebra na próxima segunda-feira (3).

O documento contou com o testemunho de 900 jornalistas de 120 países, com 173 entrevistas em profundidade e uma análise das ameaças feitas a duas jornalistas Maria Ressa, nas Filipinas, e Carole Cadwalladr, no Reino Unido, com a análise de 2,5 milhões de publicações em diferentes redes sociais contra estas duas mulheres,

“Este relatório mostrou-nos elementos preocupantes. A violência em linha tem impactos concretos fora da internet. Um nível elevado das mulheres questionadas falaram em problemas de saúde mental ou até auto censura. Esta violência impede as mulheres de exercerem a sua liberdade de expressão”, explicou Guilherme Godoi, chefe da área da liberdade de expressão e segurança dos jornalistas na UNESCO, em declarações à agência Lusa.

Redução da presença online

A violência online tem um verdadeiro impacto no trabalho jornalístico, 38 por cento das mulheres decidiram reduzir a sua presença online, 11 por cento tiveram de se afastar alguns dias do trabalho para recuperar das ameaças, 4 por cento mudaram de trabalho e 2 por cento abandonaram mesmo a profissão.

Quanto aos efeitos da violência, segundo as jornalistas entrevistadas, há uma passagem à vida real com 20 por cento das mulheres a relatarem ataques físicos. Os ataques online sobem ainda de tom caso uma mulher jornalista seja negra, indígena, judia, árabe ou lésbica.

Os temas de trabalho em que as jornalistas são mais atacadas são igualdade de género (49%), política e campanhas eleitorais (44%), direitos humanos e políticas sociais (31%).

Estes ataques, olhando para os 2,5 milhões de publicações contra Maria Ressa, que fundou o jornal “Rappler” nas Filipinas e investiga casos de corrupção, e Carole Cadwalladr, jornalista de investigação que entre outros temas, ganhou o prémio Pulitzer pelo seu trabalho no caso da Cambridge Analytica, são coordenados e cada vez mais sofisticados.

Segundo o relatório, muitos destes ataques são mesmo “organizados por actores políticos” e nem sempre as mulheres jornalistas falam destas experiências, não recebendo apoio interno das suas redacções para exporem situações de violência online.

A UNESCO quer evitar o cenário “catastrófico” em que as mulheres decidam não ser ou deixar de ser jornalistas devido às perseguições online e, portanto, consideram que cabe também a todos os cidadãos reconhecerem o problema e baterem-se pela liberdade de imprensa e de expressão colectiva.

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