A decisão para a transladação do corpo do ex-Presidente da República, José Eduardo dos Santos, de Barcelona para Luanda, continua a aguardar por decisão judicial, cuja sentença poderá ser conhecida nos próximos dias.
O caso encontra-se na Vara de Família do Tribunal Civil de Catalunha, que vai decidir com quais dos familiares deverá ficar o corpo do ex-Presidente da República, se é com a ex-Primeira-Dama da República, Ana Paula dos Santos, e seus filhos, ou com a ala dos filhos liderada por Tchizé dos Santos, que moveu a acção junto daquela instância judicial.
Uma fonte consultada pelo Jornal de Angola dá conta que o caso no tribunal regista um avanço na ordem dos 70 por cento, daí o nosso vaticínio de que a sentença possa ser conhecida nos próximos dias.
O ministro de Estado e chefe da Casa Militar do Presidente da República, general Francisco Furtado, que lidera a delegação representante do Estado angolano, lamentou o facto de a situação ter chegado a este ponto. “O que eu sinto é que não devíamos chegar a este momento que estamos a viver, da imposição de uma ou duas filhas, directamente na tentativa de impedir que os restos mortais do ex-Presidente da República, o Eng. José Eduardo dos Santos, sejam transladados para Angola”, salientou.
Francisco Furtado lembrou que o encontro com a família, realizado no sábado passado (9 de Julho), em Barcelona, sobretudo com a primogénita, Isabel dos Santos e José Paulino dos Santos, que participaram no encontro por áudio chamada, ficou expressa a vontade desta última parte de querer ver o pai sepultado em Luanda, mas em condições que remetiam para a intenção do uso do corpo para outros fins.
“Isto levou-nos a esclarecê-los de que não deviam usar o corpo do pai como moeda de troca para atingirem outro objectivo que não seja aquilo que conforma o sentimento familiar e da nação”, contou.
A reunião, encabeçada pela ex-Primeira Dama da República, Ana Paula dos Santos, contou com a presença de seis dos oito filhos do ex-Presidente da República, sendo quatro de forma presencial e dois por áudio chamada.
Estiveram, ainda, nesta reunião, de forma física, outros familiares presentes em Barcelona, com destaque para Marta dos Santos, irmã do ex-Presidente. Estes familiares também mostraram-se favoráveis à transladação do corpo para Luanda, a fim de que o estadista tenha um funeral condigno.
Ausentes da reunião estiveram Tchizé e Zenu dos Santos, sendo que este último se encontra em Angola.
Na reunião, que contou com Francisco Furtado, foi apresentada a garantia do Estado angolano que previa a transladação dos restos mortais para o país juntamente com toda a sua família presente em Barcelona, em condições de segurança e para uma permanência, até depois das exéquias, que achassem conveniente.
Face ao desfecho inconclusivo da reunião, o ministro de Estado e chefe da Casa Militar do Presidente da República esclareceu que a delegação angolana que lidera, em Barcelona, passou a manter “apenas” contacto com as entidades judiciais, por via do escritório de advogados contratado para defender a causa e apoiar a família do ex- Presidente José Eduardo dos Santos (a ex-Primeira-Dama da República e outros filhos), que estavam, inicialmente, desapoiados.
“Havia, de facto, da parte das duas filhas, uma maior capacidade e até pressão psicológica sobre a esposa e outros filhos”, revelou.
Presidente está a par de tudo
Francisco Furtado disse que o Presidente da República, João Lourenço, está a par do que se está a passar em Barcelona e tem, por isso, orientado a delegação destacada nesta cidade espanhola a manter a serenidade e a tratar, com todo o respeito e sentido de Estado, a questão com as autoridades judiciais.
De lembrar que os resultados provisórios da primeira queixa que a filha Tchizé dos Santos moveu junto da Vara Criminal do Tribunal da Catalunha, para apurar uma suposta causa da morte, que não seja natural, descartou qualquer possibilidade de maus tratos ou envenenamento do ex-Presidente da República, José Eduardo dos Santos.
Executivo apela ao bom senso das filhas de José Eduardo dos Santos
Francisco Furtado referiu que as filhas que se opõem à transladação do corpo do pai para Luanda, para ser sepultado com honras de Estado, precisam de ter o bom senso e consciência sobre a importância e a necessidade de preservar a imagem da família e o bom nome do pai, bem como o respeito pelos cidadãos angolanos e pela comunidade internacional que querem ver esta situação resolvida de forma pacífica.
“Toda a Nação angolana quer a presença do seu antigo líder no país para lhe render a merecida homenagem”, salientou.
O ministro de Estado e chefe da Casa Militar do Presidente da República ressaltou que o desfecho favorável à transladação do corpo do ex-Presidente da República, para Luanda, será um ganho para a Nação e a família, que se sentirão confortados com a realização de um funeral condigno à dimensão do ex-Chefe de Estado, no solo pátrio, onde nasceu e de onde partiu para ser tratado em Espanha.
Francisco Furtado acredita que se o Tribunal da Catalunha tiver em conta as razões que levaram o ex-Presidente da República a Barcelona não haverá outro desfecho que não seja o regresso do corpo para Luanda.