Angola pode explorar petróleo em duas concessões de blocos na República do Tchad nos próximos tempos, visando aproveitar as potencialidades dos dois países, numa perspectiva estratégica de curto e médio prazo, avança o JA.
A intenção foi manifestada ontem, em Luanda, pelos Chefes de Estado de Angola, João Lourenço, e do Tchad, Idriss Deby Itno, que efectuou, até ontem, uma visita oficial de dois dias ao país.
No final das conversações oficiais, no Palácio da Cidade Alta, as duas delegações assinaram um Memorando de Intenções e o Processo Verbal. A intenção resulta, entre outros aspectos, da necessidade de Angola e Tchad criarem plataformas de cooperação que beneficiem da experiência que cada um detém para colocar as respectivas economias na via do desenvolvimento sustentável.
Em declarações à imprensa, nos Jardins do Palácio Presidencial, João Lourenço afirmou que o Tchad põe à disposição de Angola a concessão de dois blocos. O Chefe de Estado informou que os ministros do sector dos dois países conversaram sobre o que deve ser feito, em breve, para a materialização desta intenção.
O Presidente Idriss Deby Itno justificou que o objectivo é aproveitar a vasta experiência que Angola acumulou ao longo de mais de 40 anos. “A Sonangol tem uma vasta experiência no domínio dos petróleos e trabalha também em alguns países estrangeiros. Temos, por isso, mais uma razão para Angola nos levar a encontrar vias e meios para reforçar este domínio e até ao comércio”, disse.
O Presidente João Lourenço considerou a visita do homólogo tchadiano “curta e produtiva por ter permitido a assinatura de um Memorando de Intenções e um Processo Verbal”.
A justificar a assinatura de apenas dois instrumentos está o facto de a Comissão Mista Bilateral de Cooperação não se reunir há já muito tempo. “Como não estamos em condições de assinar acordos, assinamos os dois instrumentos. Os acordos devem ser assinados em breve, em Djamena, tão logo estejamos em condições de o fazer”, referiu o Presidente João Lourenço.
Indústria e Agricultura
No domínio da indústria e agricultura, os empresários angolanos foram convidados a investir naquele país, com forte tradição agro-pecuária. A prová-lo está o facto de o Tchad possuir actualmente uma população bovina à volta de 100 milhões de cabeças de gado para uma população de 15 milhões de habitantes.
O Tchad tem também tradição de exportação, não só para países africanos, mas também europeus. “No âmbito da cooperação Sul – Sul, estamos a ver a possibilidade de importar carne bovina do Tchad, enquanto não alcançarmos a auto-suficiência”, disse João Lourenço, para quem esta poderá ser uma boa solução para reduzir a pressão sobre as divisas e agregar a vantagem de trazer produtos frescos à mesa, o que constitui um desafio para os empresários angolanos.
Além da carne, o Presidente João Lourenço aventou também a possibilidade de aquisição de gado para a reposição da população bovina em falta em algumas zonas do país, como o Pólo de Camabatela.
A respeito desta possibilidade, Idriss Deby Itno disse, em declarações à imprensa, que o seu país produz uma “carne bio” e que pode ser exportada para Angola com grande facilidade. Neste sentido, apelou os empresários angolanos a se juntarem ao Tchad, que projecta, para Dezembro, a abertura de um matadouro moderno e funcional. Idriss Deby Itno manifestou a intenção de ver, na gestão do empreendimento, empresários angolanos.
Outro domínio a ser concretizado no âmbito da cooperação é a Defesa e Segurança e na formação de pilotos militares, com realce para helicópteros. “Angola pode ajudar nesse sentido”, garantiu o Presidente João Lourenço.
Abertura de embaixadas
Quinta vez a visitar Angola, Idriss Deby Itno mostrou predisposição para cooperar com Angola em áreas concretas e numa perspectiva de curto prazo. “Já é tempo de nós, os africanos, nos virarmos para o interior do nosso continente e reforçar a cooperação e o comércio”, disse.
Outro aspecto que mereceu a atenção dos dois Chefes de Estado foi a questão da abertura das embaixadas nos respectivos países. No momento, o Tchad tem um consulado em Luanda. “A instalação de uma Embaixada do Tchad em Luanda é já uma necessidade. Estamos dispostos a analisar a questão, até porque visa reforçar a ligação Djamena e Luanda”, disse o Estadista tchadiano.
João Lourenço prometeu que ao nível das diplomacias, a questão da instalação das embaixadas vai ser analisada pelos respectivos canais diplomáticos e pelos ministros das Relações Exteriores, que devem começar a trabalhar na questão.
Retrato de Angola
João Lourenço traçou o retrato do que deve ser a Angola do futuro, lembrando que tem estado a adoptar políticas que visam dar um maior dinamismo à gestão das instituições do Estado, embora reconheça haver ainda muito por realizar, em especial na luta pela diversificação da economia, aumento da produção interna de bens e serviços e consequentemente aumento da oferta de emprego.
“Esta luta deve ser acompanhada pela luta permanente contra a corrupção e a impunidade, pelo respeito da coisa pública e moralização da sociedade”, disse.
O Chefe de Estado lembrou que o Tchad vive também dificuldades de vária ordem, designadamente na luta contra o terrorismo, a violência interétnica e a seca, e encorajou os esforços que aquele país tem feito para debelar esses males internos e também para pacificar a região em que se insere, no âmbito do G5 do Sahel.
Iniciativas de paz
Na abertura das conversações, o Presidente Idris Deby Itno felicitou o homólogo angolano pela iniciativa de acolher, em Luanda, o encontro entre os Presidentes do Uganda e Ruanda, que culminou na assinatura, na quarta-feira, do Memorando de Entendimento de Luanda para pôr termo as fricções nas relações político-diplomáticas.
O Chefe de Estado tchadiano disse que Angola e o seu país têm a possibilidade de explorar os domínios da Cultura, Agricultura, Pecuária, Energia, Minas e Infra-estruturas, considerando crucial a reactivação da Comissão Mista Bilateral de Cooperação. “Hoje, mais do que nunca, os nossos países devem juntar sinergias para fazer melhor, tendo em conta os desafios para o desenvolvimento e bem-estar dos nossos povos”, disse.
Acções concretas nas Ciências e Tecnologias de Informação
O Presidente João Lourenço entende ser preciso estabelecer, com o Tchad, acordos que se traduzam em acções concretas nos sectores do Ensino, das Ciências, das Tecnologias de Informação, do Empreendedorismo, do Ambiente, Transportes, Energia e Águas, da Construção Civil, dos Recursos Naturais, Indústria, Agricultura, Turismo, Defesa, Saúde e Cultura.
Diante das potencialidades que a cooperação oferece, dos dois Chefes de Estado veio o convite recíproco aos empresários. “Os empresários tchadianos podem encontrar grandes oportunidades de negócios, quer de forma directa, quer em parceria com empresas públicas e privadas angolanas, facilitados pela melhoria da legislação existente a esse respeito”, disse João Lourenço.
Manifestou a intenção de colher a experiência do Tchad, que por ser em grande parte constituído por um deserto e sofrer com a falta de água, desenvolveu técnicas para aprimorar a Agricultura em áreas desérticas e para o tratamento de doenças raras.