O gestor que fez parte da sua carreira na Sonangol e que conhece, e o próprio o reconhece, como poucos no país o sector, defende a transição energética, para qual não se vislumbra qualquer estratégica. Comentando a ausência de conteúdo local aponta o dedo à Sonangol, que bloqueou o processo durante anos
“Estou de acordo que é necessário fazer a mudança energética, o problema é que, e de um momento para o outro, não podemos deixar de andar de carro porque não há mais combustível, ou deixamos de ter energia em causa, porque a energia que usamos ainda usa carvão e ainda usa petróleo” começou por nos dizer Lago de Carvalho, que não tem qualquer dúvida que “é preciso fazer a transição, é preciso que efectivamente haja outras fontes de energia, aliás, eu estou convencido que sem o hidrogénio não vamos lá, mas para haver hidrogénio é preciso haver refinarias… e um enorme investimento em termos e “stocagem” de distribuição, etc., e isso demora”, reconhece, e até lá “é preciso saber viver com as suas coisas”.
O que inquieta o gestor é o facto de ser evidente que é preciso fazer essa transição, mas, e ao que parece, “ninguém está a pensar nisso”, e considera grave a ausência de qualquer estratégica até porque daqui a uns tempos as divisas começaram a escassear, o petróleo acaba, e não há uma alternativa para as exportações petrolíferas, que continuam a representar cerca de 90% das exportações do país. E ela é necessário e é já na próxima década.
“Daqui a 10 anos, o país tem de ter desenvolvido alguma área significativa de receitas de exportação”, alerta.
Para a transição energética é preciso investimento, também para que o problema não seja de responsabilidade exclusiva do Executivo, e para que haja investimento é preciso alguém que pense estrategicamente na questão.
Um dos temas que dominou o painel da manhã, do qual Lago de Carvalho fez parte, foi a questão do conteúdo local – empresas e quadros e trabalhadores angolanos no sector – que é baixíssimo, quase residual. Quanto a esta questão o gestor é cristalino na sua opinião e aponta o dedo à Sonangol.
“O conteúdo local que temos é infelizmente aquilo que a Sonangol permitiu”, afirma e explica, “os contratos entre a Sonangol “antiga”, hoje temos agência (ANPG), e as petrolíferas internacionais foram manipulados em benefício da empresa pública e de empresas ligadas ao poder, que bloquearam completamente a possibilidade de privados independentes puderem desenvolver essas actividades. A área de conteúdo local está muito fraca em Angola porque foi bloqueada pela Sonangol”, e repete, “o maior inimigo do conteúdo local tem sido a Sonangol”.
Foi mas não será, porque hoje é também cliente e porque o volume da actividade baixou.
No último, referindo-se ao investimento estrangeiro em projectos de energias limpas, irónico, deixa a pergunta: “mas de que investimentos é que estamos a falar”?