A Somália anunciou nesta terça-feira que corta relações diplomáticas com o Quénia, acusando Nairobi de interferência “recorrente” nos seus assuntos políticos enquanto Mogadíscio prepara as esperadas eleições marcadas para o início de 2021.
A decisão ocorreu depois do Quénia receber a liderança da Somalilândia, um estado separatista não reconhecido por Mogadíscio, após meses de tensões entre os dois vizinhos.
O ministro da Informação, Osman Abukar Dubbe, disse aos repórteres que os diplomatas quenianos em Mogadíscio tiveram sete dias para partir e que os enviados da Somália estavam a ser chamados de Nairobi.
A Somália disse que uma reunião de chefes de estado de nações da África Oriental foi convocada para 20 de Dezembro em Djibouti para discutir o assunto.
A Somália irritou-se com o que chama de intromissão do Quénia na fronteira, embora as autoridades não apontassem queixas específicas para a sua decisão de romper as relações diplomáticas.
O anúncio foi feito apenas um dia depois do presidente queniano Uhuru Kenyatta ter recebido em Nairobi o presidente da autoproclamada região independente da Somalilândia na Somália, Muse Bihi Abdi.
A Somália há muito se ressente do que acredita ser o apoio do Quénia a Ahmed Madobe, presidente do estado somali de Jubaland. Madobe está em desacordo com Mogadíscio e levantou divergências com o roteiro do governo central para as eleições na Somália.
A Somália argumentou que, como resultado da interferência do Quénia, Ahmed Madobe renegou o acordo eleitoral alcançado entre os líderes federais e regionais da Somália a 17 de Setembro.
O acordo de 17 de Setembro abre caminho para eleições indirectas na Somália, mas o líder de Jubaland quer que o governo da Somália remova forças federais da região de Gedo para que o seu governo possa realizar eleições, uma medida que o governo federal se opôs. Tanto Quénia quanto Jubalândia negaram as acusações na época. O Quénia lamentou a acção “infeliz” da Somália e disse que as alegações eram “infundadas”.
O Quénia disse não ter presença diplomática na Somalilândia, mas elogiou a Somalilândia como um parceiro importante na região do Corno de África na luta contra o terrorismo e, particularmente, o Al-Shabab.
A Somalilândia declarou secessão do resto da Somália em Maio de 1991, mas ainda não obteve reconhecimento internacional. A Somália considera a Somalilândia como parte da Somália.
Em Julho deste ano, a Somália cortou laços com a Guiné depois de receber o presidente da Somalilândia durante uma visita a Conacri.
A Somália deverá votar em eleições presidenciais e parlamentares no início de 2021.