Eleições gerais estavam marcadas para esta segunda-feira, mas foram canceladas devido à discordância entre líderes políticos. Presidente cessante Mohamed Farmajo diz que há “interferência externa” no pleito.
As eleições gerais na Somália, que deveriam ter lugar esta segunda-feira (08.02), serão adiadas após o fracasso das negociações entre as principais lideranças políticas do país. Segundo o Presidente Mohamed Abdullahi Farmajo, as tentativas de realização do pleito foram travadas.
O impasse poderá conduzir a uma crise política de novas dimensões na nação do Corno de África – que já enfrenta uma violenta insurreição islâmica, uma invasão de gafanhotos, a pandemia de Covid-19 e graves carências alimentares. As partes devem voltar à mesa das negociações.
“Esperava que tivesse havido algum tipo de compromisso para sairmos do impasse, mas infelizmente essa perspetiva não se concretizou. Ainda há esperança, porém, vamos seguir em frente e agendar novas negociações. Uma coisa eu digo-vos, há interferência estrangeira nos processos eleitorais da Somália”, disse Farmajo no Parlamento
Farmajo é candidato a reeleição e permanece no cargo até que seja acordada uma nova data para o pleito. Devido à falta de recursos e preocupações com a segurança, a Somália não aplica um sistema de votação direta. Em vez disso realizam uma escolha indireta: 51 colégios eleitorais selecionados por líderes de clãs elegem legisladores que, por sua vez, elegem o Presidente.
O que impediu o pleito
Em setembro do ano passado, os líderes federais da Somália, juntamente com o Presidente, concordaram em manter o sistema de colégios eleitorais em vez de os cidadãos votarem. Na semana passada, contudo, não conseguiram chegar a acordo sobre os termos desse sistema.
“Eu e alguns outros estados membros mostrámos compromissos durante discussões e o acordo de setembro, mas as lideranças de Jubalândia e Puntlândia mataram o tempo e atrasaram o processo de eleições de acordo com o acordo de setembro”, disse o Presidente perante o Parlamento.
O número de colégios eleitorais foi fixado para duplicar este ano, de acordo com a lei somali, mas os representantes locais discordaram sobre a composição dos colégios. Também contestaram os membros da comissão eleitoral – um órgão de supervisão independente.
O Presidente e os seus aliados culparam os líderes de Jubalândia e Puntlândia pelo atraso. Numa conferência de imprensa, o ministro da Informação, Osman Dubbe, acusou os dois estados federais de estarem do lado do Quénia. No ano passado, a Somália e o Quénia romperam laços políticos depois de a Somália ter acusado o Quénia de se imiscuir em assuntos soberanos.
“A liderança de Jubalândia Ahmed Mohamed Islaan, mais conhecido como Madoobe, um aliado amigável do Quénia, é o centro da rixa eleitoral”, disse Dubbe.
Troca de acusações
O líder de Jubalândia, Ahmed Madobe, um dos opositores de Farmajo, diz que o Presidente é o principal responsável pelos sucessivos fracassos nas negociações.
Segundo Madobe, o mandatário foi incapaz “de realizar eleições atempadas com base num amplo consenso político. É evidente que ele é responsável por todos os problemas, porque quer manipular as eleições”.
Jubalândia é uma área exuberante e relativamente próspera da Somália e as lideranças políticas da região travam uma luta pelo poder com Mogadíscio. Jubalândia foi palco de recentes confrontos violentos entre as forças locais e governamentais. A deputada governista Sahra Omar Mali antevê dificuldades nas negociações.
O problema eleitoral dura muito tempo. Como disse o Presidente, porém, nem todos os estados membros federais estão envolvidos no problema. Há dois estados que fazem parte do impasse.
A incerteza sobre as eleições surge quando o país testemunha um intensificar dos ataques do grupo terrorista al-Shabab.