Gafuro Amade não tem comida que chegue em casa para quando acolher a família em fuga dos ataques terroristas de Palma e que espera ver em breve em Pemba, no norte de Moçambique. “Não tenho comida”, refere. “Se almoçar, jantar vai ser difícil” e vice-versa.
Na pequena casa de Mieze, arredores da capital provincial, onde vivem 12 pessoas, podem agora chegar mais 15.
Parte vai dormir “no quintal, com apoio de lonas”, refere, mas deixando o assunto para depois, porque para já quer saber se a família está viva e a caminho de Pemba em navios que estão a evacuar a zona e vão chegando à capital provincial.
Na sede da Cáritas há ‘kits’ compostos por bolachas e água à espera de indicações das autoridades para serem entregues a quem chegar, explica Betinha Ribeiro, membro da organização humanitária.
Segundo refere, a maioria das pessoas que até agora chegaram a Palma em embarcações, desde domingo, integravam os projetos de gás e aguarda-se a chegada da população que precisará de maior apoio, depois de passar dias sem comida, nem água.
O material já empilhado na sede da Cáritas dá para quase 2.000 pessoas, mostra Betinha Ribeiro.
Fonte da petrolífera Total disse à Lusa que um navio vai transportar cerca de mil pessoas, população que está refugiada em Afungi, junto ao recinto do investimento, para Pemba, dando prioridade às pessoas mais debilitadas.
Na capital provincial as diferentes organizações humanitárias estão a mobilizar-se para acolher esta nova vaga de deslocados.
Gafuro Amade está desde domingo a caminho do porto de Pemba para saber de novidades, e promete não arredar pé, tal como fazem dezenas de outras pessoas que passam o dia ali à espera.
Francisco Jonas também não tem comida suficiente para a família que espera reencontrar, mais de 10 pessoas incontactáveis depois da fuga de Palma.
“Comer todos os dias? Com a comida que tenho? Isso depende de Deus”, refere, sem saber como reorganizar uma vida já sem recursos para ter farinha ou arroz.
“Ainda não tenho respostas, mas confio no Governo e no que vão organizar”, refere.
Alfan Cassamo explica que a covid-19 veio agravar a situação da província de Cabo Delgado.
A pandemia está a tirar comida da mesa porque “há menos emprego”, menos oportunidades numa terra onde já eram parcas e que apostava tudo na economia em redor da exploração de gás – que o ataque em Palma voltou a pôr em cheque.
“A comida fica cara, porque tens pouco dinheiro que te aguente durante mais tempo”, explica.
“Comida suficiente? Isso não posso garantir”, diz, mas uma coisa promete: partilhar o que tiver.