A recondução no cargo de chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, general Biagué N’Tan, é vista como uma recompensa pela sua lealdade ao Presidente Umaro Sissoco Embaló aquando das conturbadas eleições.
O Presidente guineense justificou em decreto publicado nesta quinta-feira (13.08) a recondução no cargo do general, argumentando ser ele um dos “responsáveis institucionais pela estabilização das Forças Armadas” e “pelo seu distanciamento das querelas políticas”. Umaro Sissoco Embaló destaca também que o general Biagué N’Tan nunca se deixou instrumentalizar e que “sempre norteou a sua atuação com base no respeito pelos princípios da subordinação das Forças Armadas ao poder político e à autoridade democrática”.
É uma afirmação claramente rejeitada pelo analista político Luís Vaz Martins, que considera que Biaguê foi premiado pelo Presidente por ter sido parcial durante as últimas eleições presidenciais. “Trata-se de uma recondução na base de uma espécie de recompensa pelo o que o próprio general Biaguê Nan Tan fez para a acessão ao poder de Umaro Sissoco Embaló. Assistimos durante o processo eleitoral a ataques de forma frontal do general Biaguê a um dos candidatos e líder político, que é opositor de Sissoco. Depois assistimos ao patrocínio das forças de defesa e segurança da tomada de posse simbólica de Sissoco como Presidente da República”.
Favores pagos
De acordo com o analista, a intervenção militar, logo após a divulgação dos resultados, impediu o Supremo Tribunal de Justiça de analisar o recurso do contencioso eleitoral da segunda volta das presidenciais. Luís Vaz Martins lembra que militares ocuparam as instituições da República, forçando os membros do Governo de Aristides Gomes a ceder lugar aos membros do Governo de Nuno Nabiam, nomeado por Sissoco.
“Biaguê Nan Tan facilitou a insubordinação das forças armadas ao poder civil e não só o atentado a ordem constitucional. Porque todos nós sabemos que temos um processo eleitoral que ainda aguarda o seu desfecho no Supremo Tribunal. Lembro que os militares tiraram o tapete a um Governo democraticamente eleito, numa actuação fora das regras democráticas”, disse o analista à DW África.
Também a nível internacional, a recondução do general N’Tan não se arrisca a ser apreciada. Na semana passada, num relatório apresento ao Conselho de Segurança da ONU, a representante das Nações Unidas na Guiné-Bissau, Rosine Sori-Coulibaly apelou para o afastamento das Forças Armadas das disputas políticas. “As Forças Militares e de Segurança devem ser constantemente recordadas para não interferirem na política. A reforma do sector da segurança continua a ser primordial. As Forças Militares e de Segurança devem tornar-se agentes de mudança no sentido da paz e estabilidade,” disse.