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Sexta-feira, Novembro 22, 2024

Quem se saiu melhor no debate e por que não foi Lula?

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O semblante de desânimo e abatimento do ex-presidente Lula (PT) ao fim do debate promovido neste domingo (16/10) pela Bandeirantes, em parceria com a Folha de S.Paulo, o portal UOL e a TV Cultura, resumiu em parte o que foi o encontro.

Lula entrou na campanha (e na transmissão) convicto de que se sairia melhor do que o presidente Jair Bolsonaro (PL) ao forçar a comparação entre seus governos.

No primeiro bloco, a estratégia funcionou em certa medida, quando de cara ele perguntou quantas universidades foram construídas ao longo de seu mandato.

Bolsonaro não soube o que responder.

Não demorou para os adversários entrarem no tema da pandemia. Até ali, nada de novo: Lula acusou o adversário de sabotar a vacinação, Bolsonaro disse que não errou em nada.

Ficou assim para o espectador o julgamento sobre o papel do atual governo durante a crise sanitária.

A tosse recorrente de Bolsonaro mostrava um candidato nervoso nos primeiros minutos.

A certa altura, ele tentou jogar o traficante Marcola no colo de Lula e de seu vice, Geraldo Alckmin, ao dizer que ele não foi transferido para uma penitenciária de segurança máxima durante os ataques do PCC em 2006 porque teria um acordo com os governantes da época. Lula respondeu com números sobre a construção de presídios de segurança máxima em sua gestão.

Bolsonaro cometeu um erro ao associar um ato de campanha do ex-presidente no Complexo do Alemão, no Rio, a uma suposta simpatia de bandidos e traficantes. Lula respondeu dizendo que as pessoas da comunidade eram trabalhadoras e lembrou que foi um vizinho do presidente que foi preso com um arsenal de armas em sua casa num bairro de alto padrão.

Lula também pediu os créditos por ter realizado quase 90% das obras de transposição do Rio São Francisco, que Bolsonaro tenta faturar por inaugurar só agora os trechos finais.

O petista também se comprometeu a não alterar a composição do Supremo Tribunal Federal, enquanto Bolsonaro fugiu da pergunta, feita por Vera Magalhães, dizendo que se for reeleito terá mais dois indicados do seu lado.

Ali começou a abrir a caixa de ferramenta ao dizer que o ministro Edson Fachin só foi indicado ao Supremo após fazer campanha para o PT; ele associou a anulação das condenações de Lula na Lava Jato a uma canetada do magistrado. Era uma injustiça e tanto com um dos ministros que mais votaram a favor da Lava Jato durante os governos petistas, mas a injustiça ficou sem resposta. Lula já dava sinais de que saíra do controle.

No último bloco, como um time que parece cansado, Lula cometeu dois grandes erros.

Um deles foi ter deixado sem resposta, além dos dribles de sempre no assunto, uma série de acusações levantada pelo adversário a respeito da Petrobras.

O ex-presidente preferiu citar números da economia e do auge da estatal até ser alvejada pela operação.

Àquela altura Bolsonaro já tinha conseguido, como queria, tirar Lula do sério.

Em algum momento, o ex-presidente se esqueceu de que estava em um debate, e não em um palanque, e queimou o tempo disponível para alfinetar o rival com um comício improvisado.

Disse que seria eleito, voltou a prometer que em sua gestão os brasileiros voltariam a comer churrasco, falou das barbaridades do atual governo em relação à Amazônia, citou de passagem as rachadinhas e os crimes investigados pela CPI da Covid. Mas o campo acabou e ele saiu com bola e tudo. Foi seu grande erro em todo o debate (talvez em toda a campanha até aqui): deixou Bolsonaro sozinho com um latifúndio de cerca de sete minutos para falar o que bem quisesse.

Era como se todo o arsenal do gabinete do ódio ganhasse forma no discurso do presidente, que demonstrou saber de cor todas as pegadinhas e armadilhas que estimulam o ódio mais visceral ao PT e ao candidato petista.

Acusou Lula de andar com traficante, de querer liberar as drogas no país, de apoiar regimes de esquerda autoritários e querer censurar a imprensa. Aproveitou para dizer que ele era o candidato da família, que vai lutar contra ideologia de gênero e banheiros unissex nas escolas (um não assunto e uma não promessa que ele tenta associar ao rival). De bandeja, disse ainda que Lula queria voltar à cena do crime para surrupiar os cofres públicos.

Lula não tinha uma resposta à altura porque não tinha mais tempo. Mesmo com um minuto de tempo de resposta concedido sob protesto, era tarde para virar o jogo.

Faltou gás para as considerações finais.

Bolsonaro, que levou como troféu para o debate o senador eleito pelo Paraná, Sergio Moro, responsável pela condenação de Lula na Lava Jato, já não tossia nem ficava em silêncio.

Ao fim do encontro, ele seguiu batendo no adversário até mesmo ao ser perguntado por jornalistas sobre sua análise do debate.

Lula teve o mesmo tempo de exposição. Preferiu elogiar as regras da transmissão.

A cena final mostrou que Bolsonaro entendeu que tinha uma chance de ouro para explorar até a última gota a rejeição do adversário. Lula poderia ter falado no mesmo tom contra alguém que não sobrevive a dois minutos de apuração sobre a vida pública e privada, mesmo no campo em que tentou arrastar o rival, a corrupção.

O petista preferiu responder com sorrisos irônicos e acusações de que Bolsonaro mentia o tempo todo. Era mais um sinal de nervoso do que de confiança. Convenhamos: não é fácil jogar xadrez com quem move as peças botando fogo no tabuleiro.

Mas Lula deveria saber que seria assim. Parecia ter se preparado para um debate “comum” com alguém que já demonstrou do que é capaz.

Terá uma nova chance de corrigir a má impressão no debate da TV Globo.

Como num jogo de futebol, ele e sua equipe deveriam assistir ao replay dos lances da partida inúmeras vezes para não cair nos erros e armadilhas mais previsíveis do que as tentações autoritárias do atual presidente.

Por Matheus Pichonelli

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