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Sexta-feira, Novembro 22, 2024

PSD quer apostar na saúde, transportes e agricultura em Cabo Verde

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João Além, Presidente do PSD, lamenta a privatização dos transportes em Cabo Verde, promete lutar contra a corrupção na política e apostar em reformas na educação e saúde. O partido concorre em quatro círculos eleitorais nas legislativas de 18 de Abril.

Cabo Verde tem eleições legislativas a 18 de Abril. Na corrida eleitoral estão seis partidos – MpD, PAICV, UCID, PTS, PSD e PP – para eleger 72 deputados em 13 círculos eleitorais: dez no país e três na diáspora. MpD, PAICV e UCID concorrem em todos os círculos eleitorais; PP em seis círculos (Santiago Sul, Santiago Norte, Boa Vista, África, América, Europa e o resto do mundo); PTS em seis círculos (Santiago Sul, Santiago Norte, São Vicente, África, América, Europa e o resto do mundo) e PSD em quatro círculos (Santiago Norte, Santiago Sul, África e América).

João Além, o presidente do Partido Social Democrático (PSD), denuncia a privatização dos transportes em Cabo Verde e promete lutar contra a corrupção na política. O líder do PSD, de 85 anos e actualmente na reforma depois de ter sido técnico superior aduaneiro, quer ainda apostar em reformas na educação e saúde.

RFI: “A economia sofreu com a pandemia. Que propostas para a retoma económica?”

João Além, Presidente do PSD: “Nós vamos com certeza começar pela saúde. A nossa saúde é uma saúde doente. Doente por vários aspectos porque nós carecemos de todo o tipo de coisas. Os nossos médicos têm estado aqui a trabalhar socorridos pelos médicos dos outros países. De maneira que nós teremos que, em primeiro lugar, trabalhar para evitar a transmissão desse vírus aqui em Cabo Verde, mas essa transmissão do vírus parece que continua no mesmo caminho. Os indivíduos vão fazer o teste e se saírem positivos vão para casa. Passam 14 dias e depois recebem um telefonema dizendo que já estão bons, sem nenhum medicamento e, pronto, já não são novamente testados e já estão por aí a andar. De maneira que nós temos em primeiro lugar saber se, de facto, o vírus aqui em Cabo Verde contamina e como é que nós devemos evitar essa contaminação.”

RFI: “Quais são os principais investimentos que faria em relação à saúde?”

João Além: “Os hospitais parece que têm o necessário só que a corrupção não deixa avançar. Quando se importa uma máquina para o hospital, dias depois a máquina está emperrada e não trabalha e não se ataca a responsabilidade de quem quer que seja. Nós temos as autoridades que parece que estão a dormir e nós estamos aqui para os despertar.”

RFI: “A pandemia veio mostrar que Cabo Verde está muito dependente do turismo. Quais são as propostas do PSD para diversificar a economia?”

João Além: “As propostas do PSD neste sentido é de procurar evitar uns certos prémios que atrapalham ou atropelam a nossa economia porque se é verdade que há um turismo que vem aqui a Cabo Verde e deixa dinheiro, vê-se que esse dinheiro não vai para as famílias, para os trabalhadores porque enquanto na Europa, em Portugal ou em França, por exemplo, um café custa 50 escudos aqui o café também custa 50 escudos, mas o que recebe o trabalhador em França ou em Portugal não é o mesmo que recebe o trabalhador do turista aqui em Cabo Verde. Por isso é que há um défice em tudo isso e as famílias sofrem por causa disso. De maneira que nós exigimos que o salário seja aumentado para que tenhamos todos um resultado positivo para ajudar tanto a família como o próprio trabalhador.”

RFI: “E que propostas para diversificar a economia para não estar apenas dependente do turismo. Nos outros sectores, por exemplo, nos transportes marítimos, na agropecuária?”

João Além: “Os transportes também é uma vergonha. Tínhamos transportes durante algum tempo e hoje não temos nenhuns porque foram todos vendidos. Os responsáveis pela venda ou pelo desaparecimento dos transportes têm nomes: PAICV e MpD. De maneira que não temos transportes, não temos dinheiro…”

RFI: “E o que é que propõe?”

João Além: “Justamente propunha que se renovasse a frota, mas nós teríamos que ir buscar esse dinheiro que desapareceu e não sabemos para onde foi. De maneira que nós responsabilizamos a justiça e responsabilizamos tanto o MpD como o PAICV pelo desaparecimento desses transportes e desse dinheiro.”

RFI: “A privatização da TACV avançou mas acarretou muitas críticas. Agora a companhia está em perigo com a pandemia. O que fazer no sector doméstico e internacional e o que fazer para salvar a companhia?”

João Além: “Nós teríamos diligenciar no sentido de recuperar a frota que nós tínhamos anteriormente e acelerar o trabalho de forma a criar um imposto necessário para a reposição de tudo isso. Nós queremos é que a frota seja renovada e nós teremos que ir buscar esse dinheiro onde quer que seja para renovar a frota. É isso. De outra forma, não podemos fazer mais nada.”

RFI: “E em relação ao campo. Muita gente vive do campo em Cabo Verde. Tivemos três anos de saca severa. Que propostas para o sector?”

João Além: “Seca tivemos em Cabo Verde desde que eu nasci. Nós temos estado em Cabo Verde em secas permanentes. Mas muita gente morreu de fome, ninguém morreu de sede. De maneira que nós poderemos perfeitamente através das nuvens, das energias solares e das ondas, etc, podemos conseguir água para beber como para irrigar. É isso que o PSD vem sempre dizer e é o que o PSD tem na manga para fazer se for governo. Os motores que servem para dessalinizar a água e darem água para beber, também darão água para irrigar. E nós poderemos então não pensar em secas prolongadas ou repetidas porque nós temos outras condições. Nós somos ilhéus e temos água por todos os lados. Basta dessalinizá-la.”

RFI: “A bipolarização política continua em Cabo verde. Porque é que o PSD não se consegue afirmar?”

João Além: “O PSD é perseguido por todo o tipo de autoridade. Ainda agora na legalização para as eleições estamos sendo perseguidos de toda a ordem. Durante as eleições roubam votos porque mandam indivíduos mesmo para este fim. O Estado de Cabo Verde nasceu nessas condições: para a mentira, para o assalto, para o roubo, para a corrupção, para todo o tipo de coisas. O saco não termina aqui em Cabo Verde porque está sendo bem servido pela rapina. Odeiam o PSD. Nós continuamos a bater-nos para encontrar o nosso lugar.”

RFI: “Diz que são ‘perseguidos’. De que forma?”

João Além: “Pelas autoridades e principalmente pelos partidos MpD e PAICV que os elementos de justiça dependem deles.”

RFI: “Mas ‘perseguidos’ a que nível?”

João Além: “Perseguidos em todo o sentido. Politicamente nós enviamos para o tribunal petições e essas petições ficam lá guardadas. Quer dizer, estão sempre a esconder ou a protelar o andamento daquilo que nós fazemos.”

RFI: “Porque é que vocês não participaram no primeiro debate televisivo em Cabo Verde?”

João Além: “Era para participar se nos tivessem convidado. Não nos convidaram e depois foram dizer que fomos convidados. Por este motivo, entregámos uma petição à CNE e vamos continuar a fazer andar para nós pedirmos uma providência cautelar e conseguirmos trabalhar então para o futuro porque nós estamos sendo empatados em todos os sítios, travados em todos os sentidos.”

RFI: “O que diz a direção da Rádio e Televisão de Cabo Verde é que vocês foram convidados.”

João Além: “É justamente isso que eu estou a dizer. Nós não fomos convidados e por isso entrámos com uma petição chamando a atenção que ninguém trouxe nada. Eles mentiram, é mentira como já lhe disse, tudo isso vive da mentira, da rapina, etc, etc. Isso começa lá em cima e termina cá em baixo. Não é o indivíduo que rouba uma galinha e é metido na cadeia. Esses roubam milhões. Têm banco, têm acçoes na bolsa, têm empresas, têm tudo. É o dinheiro do povo que está nas mãos desses indivíduos, é isso que nós estamos a dizer porque a justiça não anda contra esses indivíduos. É contra isso que nós temos estado a lutar.”

RFI: “O que defendem em relação à regionalização?”

João Além: “Nós somos ilhéus. Isto está regionalizado naturalmente, isto já a natureza regionalizou. Nós temos de trabalhar com o que temos porque não há forma de se encontrar um caminho certo para essa tal regionalização. Isso é só fantochadas, são promessas para meter mais gente no Parlamento ou para ganhar as eleições, mas como já vimos o MpD prometeu isso nas eleições anteriores e não conseguiu fazer nada disso. Nada anda. De maneira que já estamos naturalmente regionalizados, agora é saber administrar, eles não têm sabido administrar porque administrar não é só estar aqui a mandar fazer aquilo e aqueloutro, temos que ter órgãos e temos que ser organizados e esses governos não têm sido organizados. As administrações não estão organizadas, só vivem para o desperdício.”

RFI: “Como é que vê a questão da segurança em Cabo Verde, nomeadamente na Cidade da Praia. O que é que precisa de ser feito?”

João Além: “Quanto à segurança, tudo precisa de ser feito. Tudo. Tudo porque há uma confusão na intervenção. É tropas a vir prender gente na cidade, é tropas a afastar gente quando devia ser a polícia. A segurança aqui deixa a desejar. A segurança é uma grande insegurança que nós temos porque os partidos MpD e PAICV – que foram subdivisões do PAIGC – eles têm-se desequilibrado para que possam continuar a reinar.”

RFI: “O que é que o PSD faria para melhorar a segurança?”

João Além: “Teríamos primeiro de começar pela organização, pela educação, pela saúde e pelo trabalho porque aqui toda a gente anda com as mãos a pedir, ninguém trabalha. Toda a gente ou tem dinheiro pelo roubo ou então levanta constantemente a mão a pedir.”

As últimas eleições legislativas em Cabo Verde ocorreram a 20 de Março de 2016, com o MpD a vencer com maioria absoluta, ao eleger 40 deputados, o PAICV 29 deputados e a UCID três deputados.

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