Pela terceira vez, presidente manifesta intenção de indicar Eduardo Bolsonaro ao posto de embaixador nos EUA. “Se puder dar filé mignon ao meu filho, dou”, afirmou, dizendo não se importar com possível perda de votos.
Em transmissão ao vivo nas redes sociais nesta quinta-feira (19/07), escreve a DW, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que pretende beneficiar seu filho ao falar sobre a possível indicação do deputado federal Eduardo Bolsonaro para o cargo de embaixador nos Estados Unidos.
O presidente reagiu à enxurrada de críticas de que vem sendo alvo nos últimos após sinalizar que pretende nomear Eduardo Bolsonaro para a embaixada em Washington. “Lógico que é filho meu. Pretendo beneficiar meu filho, sim. Pretendo, está certo. Se puder dar um filé mignon ao meu filho, eu dou”.
Ele, porém, disse que não se trata de “dar um filé mignon” a Eduardo, mas sim de “aprofundar um relacionamento com um país que é a maior potência econômica e militar do mundo”. Esta foi a terceira vez que o presidente se manifestou publicamente sobre a intenção de indicar o filho para o posto em Washington.
O presidente rebateu o que chamou de “crítica pela crítica” e disse ainda que não tem o receio de perder eleitores por causa dessa decisão. “Quem diz que não vai votar mais em mim, paciência! Em algumas coisas, vou desagradar vocês”, disse.
Bolsonaro disse que não vê a nomeação para o cargo como um prêmio, além de considerar Eduardo preparado para a função. Ele afirmou que, se fosse uma pessoa “sem princípios”, nomearia o filho para um ministério com grande orçamento.
No mesmo dia, durante uma cerimônia no Palácio do Planalto que marcou os 200 dias de seu governo, o presidente também falou sobre a questão, inclusive sugerindo que se a indicação de Eduardo não for aprovada no Senado, ele poderia nomear o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, para a embaixada dos EUA e colocar Eduardo no Ministério.
O presidente disse que a função do embaixador é ser um “cartão de visitas” do país e ressaltou a proximidade de Eduardo com a família do presidente dos EUA, Donald Trump.
“Imagina se o [presidente da Argentina, Mauricio] Macri tivesse um filho embaixador aqui”, exemplificou. “Eu atenderia agora ou pediria ao ajudante de ordem para marcar uma data futura? Atenderia agora”, disse Bolsonaro.
Especialistas criticam indicação
A indicação de Eduardo Bolsonaro foi contestada por veteranos e especialistas em diplomacia, como Paulo Roberto de Almeida, que atuou como ministro-conselheiro na embaixada em Washington entre 1999 e 2003. “É uma quebra de padrão diplomático jamais vista na diplomacia brasileira e possivelmente nos anais da diplomacia mundial”, disse.
“Um presidente confiar a seu filho uma função importante – e o Brasil não tem nenhum embaixador mais importante do que o de Washington – seria impensável num Estado europeu. Aqui, não se falaria de uma relação especial de lealdade e confiança, mas sim de falta de transparência e nepotismo”, afirmou o cientista político Thomas Jäger, da Universidade de Colônia, à DW Brasil.
Alexander Schmotz, da Universidade Humboldt, em Berlim, considera a indicação “estranha”. Para ele, o mais problemático nem é o suposto nepotismo, ou seja, o beneficiar-se do cargo do pai de forma pessoal e lucrativa.
“O que chama a atenção é que conhecemos um procedimento desses antes em autocracias. O motivo por que isso ocorre com tanta frequência em não democracias, contudo, não é a multiplicação da fortuna familiar, mas o fato de os líderes autocráticos serem – e terem que ser – naturalmente desconfiados.” Assim, laços familiares seriam uma certa garantia prévia de confiança.
O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), avalia que o caso configura nepotismo porque, segundo ele, a Constituição descarta a possibilidade de o presidente nomear o próprio filho.