O Presidente senegalês, Macky Sall, convocou ontem o Conselho de Ministros para debater a crise provocada pelo adiamento das eleições presidenciais no país.
O chefe de Estado está a ser pressionado pelos principais parceiros internacionais, oposição e pela sociedade civil para que as eleições sejam reagendadas e a grave crise política seja resolvida.
Pelo menos três pessoas morreram e muitas outras foram detidas em manifestações por todo o Senegal desde o anúncio do adiamento das eleições.
“Estamos fartos deste Presidente, queremos mesmo que vá embora, que deixe o nosso país em paz. Ele violou a nossa Constituição. Dizemos não ao adiamento das eleições!”, disse um dos manifestantes.
Para Madia Diop Sané, coordenador do movimento “Vision citoyenne”, a expetativa da ida às urnas alimentava o desejo de mudança do povo senegalês. “Os jovens saíram em massa para levantar os seus cartões de eleitor. Infelizmente, estes cartões continuarão a andar por aí”, lamenta.
“Os incidentes, a violência, todos diziam que tudo acabaria em breve, que só faltava o dia 25 de fevereiro para, quem sabe, conseguir a verdadeira mudança de que precisamos. É como se a eleição fosse uma arma para o povo senegalês”, explica Sané.
Protestos também eclodiram no país, em junho do ano passado, contra a condenação do líder da oposição, Ousmane Sonko, condenado a dois anos de prisão por aliciamento de menores.
Região de Casamança afetada
Sonko cresceu na região senegalesa de Casamança, geograficamente separada pela Gâmbia. Após os protestos, as autoridades suspenderam os ferries que ligavam a região ao resto do país. O transporte rodoviário, a principal alternativa, é demorado, perigoso e caro.
O setor das pescas foi um dos mais afetados com a interrupção dos serviços de ferry. “É uma região isolada, por isso, com o barco, tínhamos a possibilidade de enviar os nossos produtos sem qualquer problema”, explica o comerciante Moussa Bari.
“O barco tinha uma câmara frigorífica, agora somos obrigados a usar carros, e às vezes não há veículos com frigorífico, é arriscado. O carro pode demorar até 48 horas”, acrescenta.
Mas a sensação de marginalização não é nova em Casamança. Para muitos, o seu potencial não está a ser explorado porque o governo não investiu em infraestruturas. O desemprego entre os jovens também é galopante.
Casamança assistiu a quatro décadas de combates entre rebeldes separatistas do Movimento das Forças Democráticas de Casamança e o governo do Senegal. O conflito deixou 60 mil pessoas deslocadas e perto de 5 mil vítimas, incluindo centenas de mortes causadas por minas terrestres.
Para Ousmane Sonko, ” deveria ser o centro do Senegal” e enfatizou o potencial comercial da região com países vizinhos como a Guiné-Bissau. O político prometeu tirar a região do seu torpor e transformá-la num “centro financeiro regional”.
Por Maria Gerth-Niculescu