Quando foram anunciados, em Março do ano passado, os primeiros casos de Covid-19 no mundo, até ser decretado o Estado de Emergência em Angola, a província do Huambo posicionou-se como “trincheira firme”, no país, no combate à pandemia do novo coronavírus. As medidas de biossegurança eram seguidas à risca.
Em largos meses, nenhum caso positivo foi registado. O ministro de Estado e chefe da Casa Civil do Presidente da República, Adão de Almeida, chegou a elogiar, numa das deslocações à província, as medidas adoptadas pela Comissão Provincial de Combate à Covid-19.
Com o decorrer do tempo, numa cruzada de pensamento pueril, de que a “Covid-19 não existe no Huambo”, para a maioria do universo da população local, as medidas de prevenção e de biossegurança passaram para o plano secundário. O resultado, desse desleixo e “baixar da guarda”, são bem visíveis: a província já tem o registo de mais de 400 casos positivos.
O que terá, então, falhado na estratégia inicialmente traçada?
A Comissão Provincial de Combate à Covid-19, na pessoa do seu porta-voz, Lucas Nhamba, fala em “não observância”, propositada, das medidas de prevenção por parte da população. “A situação não precisa de intervenção em termos de defesa e segurança. As pessoas devem estar consciencializadas do perigo e o risco da proliferação da doença”, diz.
Por este andar, assiste-se, diariamente, na cidade do Huambo e nas sedes municipais da província, a um autêntico desrespeito às orientações das autoridades sanitárias e ao Decreto Presidencial sobre o Estado de Calamidade Pública em vigor no país.
Os funerais estão a ser realizados, na generalidade, mesmo em casos de morte comprovada de Covid-19, com longas filas de carros e centenas de pessoas.
“O Huambo está de rastos em relação às medidas de prevenção e biossegurança da Covid-19. A população perdeu o medo da morte”, declarou Morais Cláudio, em conversa com um amigo, quando assistiam, ao longe, o funeral de um jovem empresário, encontrado morto, em situação estranha, na província do Cuanza-Norte.
No serviço de moto táxi tem-se registado um constante “atropelo” às regras de trânsito, em que, numa sentada, são transportadas, numa motorizada, três a quatro pessoas, a depender da compleição física dos “ocupantes” que solicitam a corrida. Nestes casos, comenta-se, “não há nenhum ‘centímetro’ para o distanciamento físico”, o que, em certa medida, contribui para o surgimento de novos casos positivos. Neste particular, as autoridades policiais “fecham os olhos” como se nada tivesse a haver com as suas competências.