A Polícia moçambicana alertou para o aumento de jovens que se fazem passar por terroristas e incendeiam casas para furtar, em distritos de Cabo Delgado, alvos de ataques de um grupo ligado ao Estado Islâmico.
Mas analistas consideram o referido atrevimento dos falsos terroristas fruto da ausência de controlo a todos os níveis, e revela o pico da deterioração da insegurança na província largamente atingida por ataques armados de insurgentes.
O incidente mais recente ocorreu na noite da segunda-feira, 12, quando um grupo de jovens colocou fogo em salas de aulas de construção precária para agitar a população, incluindo deslocados, em Metoro, distrito de Ancuabe.
“Continua a verificar-se indivíduos oportunistas que se fazem de terroristas, que incendeiam casas para afugentar as pessoas para poderem roubar”, disse Vicente Chicote, comandante da Polícia em Cabo Delgado.
Chicote disse que os falsos terroristas actuam desarmados e geralmente são moradores das aldeias, e roubam, na sua maioria, bens distribuídos aos deslocados.
“Mesmo esses terroristas, se vissem as suas imagens, vocês iam perceber que não merecem nos assustar, nem um pouco”, disse Chicote.
Sem controlo
Segundo dados da Polícia, este ano, mais de 10 jovens foram detidos por envolvimento em prática de banditismo, ao se fazerem passar por terroristas, sobretudo nos distritos a sul de Cabo Delgado.
Para o analista Martinho Marcos, a Polícia ao anunciar o aumento de falsos terroristas vem admitir “que está a perder o controlo da já frágil situação de segurança” da província, quando devia combater rigidamente os “desvios de comportamentos” dos aldeões em áreas sob ataques terroristas.
Já o analista Wilker Dias entende que o saque de bens por jovens que se fazem passar por terroristas revela uma deterioração grave da segurança.
Por outro lado, diz Dias, “é preciso prover alguns serviços tidos como básicos para o próprio funcionamento da vida social das pessoas, porque se houver esta falta do básico para a vida, o que vai acontecer é que as pessoas vão acabar por roubar e saquear fazendo se passar por terroristas para sobreviver”.