Sem detalhar números, chefe da polícia federal alemã diz que políticos, virologistas e jornalistas são alvo cada vez mais frequente de ameaças por parte de negacionistas da covid-19 no país. “Observamos com preocupação.”
O chefe do Departamento Federal de Investigações da Alemanha (BKA, na sigla em alemão), a polícia federal do país, alertou que políticos, virologistas e jornalistas têm sido alvo de “hostilidades crescentes” por parte de negacionistas da covid-19 em território alemão.
“Observamos com preocupação que o número de ameaças e hostilidades está aumentando constantemente”, afirmou Holger Münch à revista Der Spiegel no sábado (06/02). “Isso afeta políticos, mas também outras pessoas, como virologistas, que estão particularmente presentes na mídia durante a pandemia.”
Sem dar detalhes sobre números de casos, Münch acrescentou que “com cada vez mais frequência registramos ataques também contra jornalistas. A emocionalização é grande.”
O BKA, com sede em Wiesbaden, é responsável pelas principais investigações em toda a Alemanha, além das conduzidas pelas forças policiais nos 16 estados do país.
Em meio à ameaça, o órgão reforçou as medidas de segurança para detentores de cargos políticos, em coordenação com os 16 estados, informou Münch na entrevista.
Segundo ele, os policiais federais – metade dos quais está trabalhando em suas investigações a partir de casa por conta da pandemia – estão analisando a cena negacionista “muito de perto”. Interrogatórios com suspeitos estão sendo realizados, e “debates emocionais” nas redes sociais também estão sendo considerados.
O chefe do BKA observou que o movimento negacionista do coronavírus mistura teóricos da conspiração e pensadores esotéricos, mas também extremistas de direita e os chamados “cidadãos do Reich”, que questionam a existência da República Federal da Alemanha como Estado legítimo e soberano, rejeitando seu sistema legal.
No ano passado, esses grupos contrários às medidas restritivas impostas pelos governos para conter a pandemias estiveram reunidos em protestos em cidades como Berlim e Leipzig.
Em Agosto, negacionistas radicais chegaram a invadir as escadarias do Reichstag, prédio do Parlamento alemão em Berlim, gerando uma onda de condenações por parte de políticos, e levando também a um reforço na segurança de vários prédios simbólicos.
Crimes contra políticos duplicaram em dois anos
Em um relatório paralelo divulgado no sábado, o Ministério do Interior alemão revelou, a pedido do partido A Esquerda, que o número de crimes contra políticos duplicou entre 2018 e 2020.
As autoridades de segurança da Alemanha registraram 2.629 crimes contra detentores de cargos políticos, segundo dados preliminares. Em metade desses casos, ainda não foi classificado se o crime teve origem em círculos de direita ou esquerda, religiosos ou anti estrangeiros.
Entre a outra metade já classificada, 902 crimes tiveram motivação política de extrema direita, e 370, de extrema esquerda. Outros 374 crimes foram relacionados ao coronavírus, notadamente ligados a medidas de restrição para conter o avanço da doença.
Em comparação, em 2018 foram registrados 1.256 crimes contra políticos; e em 2019, esse número saltou para 1.674 infrações.
Em 2020, quase metade dos crimes computados foi registrada como comportamento insultuoso, seguido de intimidação e ameaças, depois danos à propriedade e incitação à agitação civil.
Actos de violência direta totalizaram 78, incluindo 48 casos de extorsão, 17 casos de lesão corporal, sete casos de incêndio criminoso, uma tentativa de homicídio e um envolvendo explosivos.