O representante do maior grupo cervejeiro no País acredita que a redução do Imposto Especial de Consumo relance o mercado das bebidas que deixou de ter o Estado como parte interessada no negócio com a venda da sua participação nas empresas Cuca, EKA e N”gola.
O grupo Castel assumiu recentemente a totalidade do capital social das fábricas Cuca, Eka e N”gola com a compra da participação do Estado nestas empresas. O valor de compra coloca as empresas a valerem 87,9 mil milhões Kz. À taxa de câmbio hoje são 135 milhões USD. Acha que este valor reflecte realmente o mercado destas cervejas em Angola?
Foi feita uma avaliação das empresas. Houve um concurso público aberto a todos os interessados e houve pouca participação. Acho que a nossa proposta foi justa em relação à valorização das empresas que baixou, porque as vendas baixaram muito… Há uma certa explicação para a redução do valor das empresas. Nós fizemos a nossa proposta e vencemos.
Só a Cuca fica avaliada em 48,9 mil milhões Kz, equivalente a 75 milhões USD. Olhando para a marca não é baixo este valor?
Se fosse há 5 anos provavelmente a valorização seria superior. Mas o mercado baixou 55 por cento e infelizmente isso afecta a valorização de uma empresa.
Foi um período mau para o Estado vender a sua participação nas cervejeiras?
Talvez não seja a melhor altura para se vender porque a situação económica não é boa. Faltam investidores, inclusive estrangeiros. Não é o melhor período, mas são as circunstâncias do momento à semelhança do que está a acontecer em outros países do mundo. O Governo tem um programa de privatização enorme. E a privatização é uma boa política para incentivar o investimento privado.
Este processo de privatização dos activos do Estado fica pelas bebidas ou estão a olhar para outras oportunidades?
Estávamos a olhar eventualmente para algumas fazendas, mas até agora não nos decidimos. O nosso objectivo primário é fazer bem o nosso projecto agrícola em Malanje.
Qual é real situação deste projecto?
É um investimento de 40 milhões de dólares. Estamos a acabar os trabalhos de irrigação. Fizemos um canal do rio Kwanza até à fazenda com 640 metros, estamos a terminar as instalações das bombagens.
Se tudo correr bem esperamos avançar com a irrigação em Setembro e em Outubro iniciar a nova safra.
Esta fazenda vai produzir matéria-prima para a produção dos vossos produtos?
Sim. Numa primeira fase fizemos 1800 hectares de milho e se as coisas correrem bem esperamos ter 20 mil toneladas de milho no próximo ano. Este milho é vendido a empresas de moagem que transformam em três componentes: grites para produzir cerveja, fuba para as famílias e farelo para os animais. Hoje a cerveja é 70% de cevada e 30% de milho e queremos que este milho seja nacional. Isto vai permitir poupar milhões de dólares.
No ano passado o Governo apresentou um conjunto de medidas para ajudar as empresas a reduzirem o impacto da Covid19. Beneficiaram de algumas destas medidas?
Concretamente não. Importa sublinhar que já antes da pandemia estávamos em negociação com Governo para a redução do peso fiscal nas empresas do sector das bebidas.
Essencialmente com a redução Imposto Especial de Consumo (IEC), que é o maior imposto que as empresas do sector pagam ao Estado.
E foram ouvidos…
Tivemos uma compreensão das autoridades e finalmente a redução foi aceite e já aprovada na Assembleia Nacional e aguardamos a sua publicação no Diário da República para começar a vigorar e será agora calculado com base no preço de venda e não no custo de produção como até então. Este imposto pesa todos os anos nos resultados das empresas e a solicitação de redução foi para relançar a nossa actividade e recomeçar a investir. E neste período difícil do mercado termos ajuda indirecta do Estado é importante. O IEC é o maior imposto que as empresas do sector pagam ao Estado.
Estão satisfeitos com esta redução?
Estou satisfeito. É muito importante para mim que os preços não aumentem para o consumidor final. Sabemos todos que estamos a passar por momentos difíceis. Falta de emprego, perda do do poder de compra… As pessoas têm que encontrar no mercado produtos a preço razoáveis. Temos interesse em manter os nossos produtos com preços competitivos para ajudar a recuperação de volumes.
Que impactos terá a redução do IEC na vossa actividade?
O IEC dá uma ajuda importante na nossa produção. Com a redução do IEC os produtos vão ficam mais baratos para os consumidores? Acho que vão baixar alguma coisa.
O mercado nacional das bebidas hoje é grande, como olha para a concorrência?
A concorrência é boa para a competitividade das empresas e ajuda a nível de preços para o consumidor final. Para mim é muito saudável ter em todos os ramos da actividade económica competidores. E temos bons competidores e a luta é saudável. Agora, o grupo Castel sempre pagou os seus impostos, sabemos que algumas empresas não pagam os impostos que deveriam pagar isso é uma concorrência desleal. Alerto o Governo para tomar medidas em relação a estas empresas. Esta situação faz com que os produtos chegam ao mercado com diferenças significativas dos preços.
O que leva uns a pagar e outros não?
Temos que ser todos tratados ao mesmo nível. Isto cria uma situação de desconforto para as empresas que pagam os seus impostos. Se não, vamos continuar a ver no mercado produtos similares com grandes diferenças de preços.
Haverá empresas protegidas?
Não sei. Fala-se que o mercado é autosuficiente, mas ainda se importa cerveja.
Como se explica?
Hoje a capacidade de produção nacional é três mais do que a capacidade de consumo. Temos muitas fábricas de cerveja, gasosa… Chega. Há outros ramos onde é necessário investir. Temos fábricas que funcionam hoje com metade da sua capacidade de produção, sem esquecer as que estão paradas.
Com esta capacidade ainda se importam bebidas…
O Governo tomou medidas recentemente para proibir importação de cervejas e sumos. É normal. Angola deve proteger a sua indústria nacional e não vejo utilidade nenhuma de se importar cervejas, gasosas, sumos, águas…E gastar divisas para nada. O Governo tem que olhar para isso.