O Estado angolano tem a possibilidade de recuperar os 900 milhões de dólares em nome de Carlos Manuel de São Vicente, bloqueados na Suíça, garantiu, ontem, o porta-voz da Procuradoria-Geral da República (PGR), Álvaro João.
Investigado pelos crimes de peculato, branqueamento de capitais e tráfico de influências, Carlos Manuel de São Vicente, antigo PCA da seguradora AAA, foi constituído arguido há duas semanas e volta a ser ouvido hoje na Direcção Nacional de Investigação e Acção Penal (DNIAP) da PGR. O interrogatório iniciou na passada terça-feira e foi suspenso por procedimentos normais.
Em declarações, ontem, à Rádio Nacional (RNA), o porta – voz da PGR sublinhou que, “com uma decisão judicial dos tribunais angolanos, as autoridades suíças entregarão os 900 milhões de dólares a Angola”. Segundo Álvaro João, existem fortes indícios, das investigações feitas, de que o referido dinheiro é resultado de vantagens dos crimes indiciados praticados em Angola, cujas suspeitas recaem sobre o cidadão Carlos Manuel de São Vicente.
O porta-voz da PGR esclareceu que a recente deslocação, à Suíça, da directora nacional dos Serviços de Re-cuperação de Activos, produziu resultados satisfatórios e serviu, também, para o reforço da cooperação judiciária internacional com as autoridades da República Helvética da Suíça. “Antes mesmo do caso ter sido divulgado pela imprensa, já a PGR tinha domínio do dossier que envolve o antigo PCA da AAA, que logo encetou contactos com a congénere da Suíça, através de cartas rogatórias, cujas respostas obtivemos recentemente”, sublinhou.
Para Álvaro João, as investigações em curso permitem antever que mais pessoas serão arroladas ao processo e, no devido tempo, serão notificadas para responderem sobre os factos que lhes são imputados.As investigações, reforçou, prosseguem com vista a determinar quem são os outros prováveis arguidos.
O porta-voz da PGR disse ser um equívoco pensar que o interrogatório feito a Carlos de São Vicente, na passada terça-feira, foi conclusivo. Reagindo às especulações nas redes sociais que davam conta de que o processo de interrogatório estaria concluído, o também subprocurador-geral da República disse que “não passam de um equívoco”, porque o cidadão Carlos Manuel de São Vicente esteve a ser ouvido, mas que, por razões do adiantado da hora e de alguns procedimentos processuais que deviam ser cumpridos, o interrogatório foi suspenso.
A PGR apreendeu, há cerca de duas semanas, 49 por cento das participações sociais da AAA Activos no Standard Bank de Angola, SA, sob gestão de Carlos de São Vicente. As apreensões decorreram no âmbito do processo nº 12-A/2020 – SNRA, aberto por haver fortes indícios dos crimes de peculato, participação económica em negócio, tráfico de influências e branqueamento de capitais.
Foram ainda apreendidos três edifícios AAA e o IRCA, sitos na avenida Lénine, na Nova Marginal, avenida 21 de Janeiro e na rua Amílcar Cabral, bem como a rede de hotéis IU e IKA, todos localizados em Luanda.