Em Agosto, a PGR tinha dito que não havia indícios de crime contra o empresário, agora detido.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) confirma a autenticidade do ofício enviado ao Ministério Público da Suíça, informando que não havia quaisquer indícios de crimes de corrupção contra o empresário Carlos São Vicente.
O ofício, datado de 13 de Agosto de 2020, a que a VOA teve acesso, foi enviado em resposta a uma carta rogatória das autoridades judiciais helvéticas a propósito do congelamento de 900 milhões de dólares pertencentes ao empresário angolano.
Em declarações à VOA, o porta-voz da PGR , Álvaro João, esclareceu que quando a instituição enviou a carta à Suíça, São Vicente não estava a ser investigado, nem tinha qualquer processo aberto , em Angola, sobre os crimes que agora lhe são imputados.
O magistrado do MP acrescentou que só depois de receber das autoridades da Confederação Suíça mais elementos “para sustentar o que se estava a passar”, a PGR angolana abriu o processo contra o antigo homem forte das AAA.
Álvaro João lembrou que a PGR enviou à Suíça, com este propósito, a responsável pela Recuperação de Activos, Eduarda Rodrigues.
“Só depois da resposta da Suíça e das denúncias internas, principalmente de Carlos Rosado, é que tivemos mais elementos e abrimos o processo de investigação”, acrescentou.
O caso
O empresário Carlos São Vicente, que está em prisão preventiva, foi constituído arguido a 16 de Agosto por suspeita dos crimes de peculato, branqueamento de capitais e tráfico de influência, cometidos enquanto presidente do Conselho de Administração das AAA.
A prisão foi antecedida da apreensão de 49 por cento das participações sociais da AAA Activos no Standard Bank de Angola, SA, sob gestão de Carlos São Vicente
Depois foi a vez dos edifícios AAA em Luanda e em algumas províncias, do edifício IRCA, bem como a rede de hotéis IU e IKA, todos localizados em Luanda.
Entre os bens apreendidos encontra-se também um imóvel, sito no condomínio Sodimo, na Praia do Bispo, que servia de escritório de Manuel Vicente, ex-presidente do Conselho de Administração da Sonangol e antigo vice-presidente da República, os edifícios ADLI, em Luanda, Thike Hotel, também conhecido por “Edifício Tower”.
No condomínio Sodimo foram apreendidos vários imóveis.
Como fiel depositário dos imóveis foi nomeado o Cofre Geral de Justiça.
A esposa de Carlos São Vicente, Irene Neto, filha do primeiro Presidente angolano, Agostinho Neto, também teve os bens congelados em Angola e numa primeira reacção disse haver um “massacre judicial e mediático” contra a família dela e aponta o dedo ao poder executivo “que tem uma intolerável interferência” no poder judicial.