Que soluções? Eleitores angolanos no Cuando Cubango temem que dificuldades enfrentadas durante o registo eleitoral se estendam até ao dia da votação. Falta de vontade política é apontada como a principal barreira.
Pedro Clave Samuel, de 32 anos, queixa-se da falta de informação sobre as eleições gerais. O jovem deficiente auditivo, residente em Menongue, diz desconhecer a data em que realiza o escrutínio. Mas insiste que tanto ele, como os amigos têm muita vontade de votar.
“Nós temos dificuldades auditivas e não sabemos onde votar. Queremos mais informações e formação especial. Nós, surdos e mudos, precisamos saber onde é que vamos votar”, diz Pedro em entrevista à DW África.
Pedro Clave Samue confirma que ele e os seus amigos mudos e surdos já atualizaram os registos eleitorais. O professor da escola especial pública Mwene Tchicomba deverá votar pela terceira vez. A sua esperança é que quem vença as eleições de 24 de agosto valorize mais os deficientes, garantindo-lhes formação académica e emprego sem discriminação.
“Pensámos que o Presidente nos daria mais apoios e nos prestasse maior atenção, mas isso não aconteceu – e estamos a precisar bastante. Há aqui outros que terminaram a nona classe e não puderam dar continuidade aos estudos, por isso andam pelas ruas sem trabalho. E poderão meter-se em roubos. É por isso que precisamos de apoios.”
Falta de vontade política
Milton Dala Mateus tem que deslocar-se numa cadeira de rodas. Pretende votar pela terceira vez e lamenta que muitos cadeirantes não se consigam registar por não terem o acesso facilitado. Mateus constata uma manifesta falta de vontade política para resolver o problema para os deficientes que pretendem votar.
“Geralmente, muitas das nossas escolas carecem de rampas e, se algumas têm rampas, é só mesmo para tentarem nos mentir”, lamenta, acrescentando que, nas eleições passadas, no local onde votou, viu outros deficientes físicos com problemas ainda maiores que o seu.
“Se mesmo nós que temos cadeiras de rodas, tivemos muitas dificuldades, imagina aqueles que se tiveram de arrastar. Receberam o boletim de voto, colocaram no chão e a partir do chão é que exerceram o dever de voto. Eu espero que a Comissão Nacional Eleitoral melhore os serviços – que redesenhe as cabines de voto ou, pelo menos, implemente mesas de voto adaptadas para pessoas com deficiência.”
“Aguardamos por uma Angola melhor”
Nelito Luango, presidente da Associação Provincial dos Surdos e Mudos, diz que os problemas da pessoa com deficiência neste pleito eleitoral começaram com o registo eleitoral oficioso e teme que se estendam até ao dia do voto.
O responsável critica a falta de apoio de muitos departamentos ministeriais na província.
“O próprio Balcão Único de Atendimento Público (BUAP) começou a exigir declaração de energia e água, e os nossos associados não têm sequer energia. Outro [problema] foi a sua deslocação até ao BUAP. Pela sua distância, quem poderia garantir o transporte? Nem todos conseguiram fazer o registo eleitoral por conta das limitações físicas.”
O líder associativo pondera endereçar uma missiva à CNE para solicitar uma atenção especial à pessoa com deficiência no dia do voto. E deposita esperanças no próximo Governo.
“Aguardamos por uma Angola melhor, uma Angola que valoriza a pessoa com deficiência auditiva, que defende a igualdade a todos os angolanos. Muitos destes estão na rua ou estão nestas condições porque não têm um sustento. Em consequência, ficam traumatizados psicologicamente.”
A DW África solicitou à Comissão Nacional Eleitoral provincial informações sobre as medidas que estão a ser tomadas para garantir acessibilidade aos eleitores com deficiência nas mesas de votos, mas a entidade recusou-se a prestar declarações.
Em Angola, há cerca de 700 mil pessoas portadoras de deficiência, o que representa 2,5% da população do país.