As autoridades peruanas esperavam neste domingo (18) que os violentos protestos após a destituição do presidente Pedro Castillo começassem a diminuir, enquanto o papa Francisco pedia diálogo e os Estados Unidos reformas para proteger a democracia.
“A informação que temos é que as medidas que tomamos estão funcionando, ou seja, as estradas estão sendo recuperadas, os aeroportos estão sendo habilitados e a violência dos manifestantes nas ruas também está reduzindo”, disse o primeiro-ministro, Pedro Angulo, ao canal estatal TV Peru.
Os protestos – mais intensos no sul andino, região atingida pela pobreza, desigualdade e com reivindicações sociais adiadas – exigem a libertação de Castillo, preso e investigado por rebelião, após sua fracassada tentativa de autogolpe.
Também reivindicam a renúncia de sua sucessora, Dina Boluarte, o fechamento do Parlamento e eleições gerais imediatas.
Boluarte já anunciou que seguirá “firme” no cargo e exigiu que o Congresso acelere a aprovação de uma antecipação das eleições gerais, uma reivindicação de 83% dos cidadãos com a qual a crise poderia ser mitigada.
O Parlamento deve votar novamente nesta terça-feira, 20 de dezembro, o projeto para adiantar as eleições de 2026 para 2023, que na semana passada não conseguiu os votos necessários.
O conflito surge porque um setor do Congresso, sobretudo o que apoia Castillo, quer incluir a convocação de uma Assembleia Constituinte para redigir uma nova Carta Magna que substitua a de 1993, uma possibilidade que conseguiu consenso.
Segundo a Defensoria do Povo, os protestos deixam ao menos 19 mortos e 569 feridos em confrontos com as forças de segurança. Neste domingo, ainda foram registrados alguns conflitos entre manifestantes e policiais no noroeste do país.
“Instamos às instituições democráticas do Peru que realizem as reformas necessárias durante este período difícil”, disse o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, no Twitter neste domingo, sobre uma conversa que teve com Boluarte na sexta-feira.
Blinken afirmou que Washington continuará apoiando a Presidência peruana e o país.
Enquanto isso, em seu Angelus deste domingo, o papa Francisco rezou pelo Peru para que “a violência cesse” e “se percorra o caminho do diálogo para superar a crise política e social”.
– Corredores humanitários –
Neste domingo, representantes da Defensoria peruana se coordenaram em Aguaytia, Ucayali (noroeste, selva peruana), com autoridades para promover o diálogo com os manifestantes, onde confrontos deixaram 5 civis e 6 policiais feridos.
Em alguns casos, como em Ayacucho (sul), as mortes da última sexta-feira foram resultado de confrontos com militares, autorizados a controlar a segurança interna no âmbito do estado de emergência.
Na ocasião, a Defensoria solicitou investigação criminal, devido a denúncias de disparos diretos contra o corpo por militares. Entre as vítimas, havia menores.
Familiares de alguns dos que morreram em Ayacucho carregaram no sábado seus caixões em uma praça de Huamanga, a capital, pedindo punição aos responsáveis.
Neste domingo, a Defensoria pediu ao governo a implementação de corredores humanitários para o transporte de pessoas retidas ou isoladas devido ao fechamento de estradas durante os protestos, muitos deles precisando de cuidados médicos.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos disse neste domingo que “reconhece a abertura para a construção de canais de diálogo como forma de abordar o conflito social” e anunciou uma visita ao Peru na terça e quarta-feira.
– “Bom caminho” –
As manifestações produziram no início da semana passada o bloqueio de uma centena de vias e vários aeroportos, em alguns casos com danos por vandalismo.
No entanto, desde sexta-feira, estes locais foram desbloqueados após a intervenção de policiais e militares.
“Acho que estamos em um bom caminho, como já apontou a presidente, as medidas que foram tomadas estão ajudando a diminuir o conflito”, observou o primeiro-ministro, entrevistado pela Radio RPP.
Ele explicou que vários ministros viajaram para as zonas de conflito “para promover o diálogo e chegar a consensos”.
Neste domingo, a ministra dos Transportes, Paola Lazarte, disse que as operações aeroportuárias seriam retomadas na segunda-feira em Juliaca (sudeste) e na terça-feira em Ayacucho. Na sexta-feira, o aeroporto de Cusco reabriu.
“No caso de Arequipa (sul), o aeroporto ainda está fechado. No entanto, realizamos trabalhos de restauração e reparo na cerca perimetral, que terminaremos amanhã (segunda-feira)”, disse à rádio.
A cidadela inca de Machu Picchu, em Cusco, de onde foram retirados no sábado 200 turistas presos devido ao fechamento de estradas, permanecia fechada desde a semana passada “até segunda ordem”, informou o Ministério da Cultura.
AFP
Por Moisés ÁVILA, Luis Jaime CISNEROS