Da justiça à saúde, passando pela política fiscal. O debate entre os dois candidatos às legislativas foi marcado por uma lógica de contra-ataque com os mesmos argumentos, repetindo-se frases como “o Pedro Nuno Santos não sabe do que está a falar”. “Sei sei, quem não sabe é André Ventura”
Primeiro, foi sobre a corrupção. André Ventura veio com um slogan copiado de Luís Montenegro, de 2012, (o “Partido Socialista é como o Melhoral, nem faz bem nem faz mal”) para acusar o PS de não trazer nada de novo para combater o “circuito da corrupção”. Na resposta, Pedro Nuno Santos sublinhou que o seu “é como o vosso”, antes de rapidamente corrigir: “não é como o vosso, o nosso tem respostas, o vosso tem falsas respostas”. Foi este o primeiro de numerosos momentos de ‘quem diz é quem é’ nos perto de 40 minutos de debate entre os líderes do PS e do Chega na TVI.
Esse momento viria a repetir-se uns segundos depois, ainda sob a envolvência do combate aos crimes de colarinho branco, quando André Ventura sublinhou que é preciso “confisco e apreensão dos bens para que Ricardos Salgados desta vida não fiquem nos seus palácios”. Mas sobre este tema, Pedro Nuno, que trouxe consigo as contas feitas, lançou que “em 2022 foram arrestados 37 milhões de euros e confiscados a favor do estado 13 milhões de euros” e que isso mostra como “o Chega não traz nada de novo, quer fazer de conta que combate a corrupção e apresenta soluções que já existem”.
“O Pedro Nuno Santos não sabe do que é que está a falar”, acusou Ventura. “Sei sei, quem não sabe é André Ventura”, acusou Pedro Nuno. Ambos na lógica do contra-ataque com o mesmo argumento.
Seguiu-se então outra problemática associada ao excesso de garantismos no sistema judicial português, com Ventura a trazer à baila o caso dos 30 recursos que José Sócrates já utilizou para a Relação, Supremo e Tribunal Constitucional. E aí, Pedro Nuno Santos lembrou o caso em que “André Ventura já foi condenado por difamação e recorreu”. “Eu cá nunca fui condenado e nunca senti necessidade de recorrer”, acrescentou. “Era um processo cível, não tem nada a ver com crime”, defendeu-se Ventura.
O tema da justiça viria a adensar o clima de debate entre os dois, tendo o seu momento de clímax chegado já quando ambos tinham apenas segundos para falar. Ventura acusou Pedro Nuno Santos de ser “frouxo contra a corrupção” e, ripostou o líder socialista, “eu não sou frouxo, que linguagem é essa, tenha respeito pelo seu adversário”.
Saúde: Dos “candidatos amnésicos” às posições que “não são para levar a sério”
A discussão à volta da crise no SNS teve no seu cerne a proposta de Pedro Nuno Santos de “que quem tenha recebido formação no nosso sistema de ensino deve dar algum tempo mínimo no SNS”, não sendo esta “obviamente uma imposição”, esclareceu, apontando a negociações com os médicos.
Esta medida, tida pelos sindicatos como “discriminatória” e já proposta pelo PS noutras ocasiões foi atacada pelo líder do Chega que o acusou de ser “o candidato amnésia” por desvalorizar a contestação passada da classe. “Candidato amnésico é André Ventura”, contra-atacou Pedro Nuno.
Nesse contra-argumento, o líder socialista afirmou que o programa do Chega “não é credível” por já ter defendido tudo e o seu contrário – e não se lembrar. “André Ventura quer tudo, já quis extinguir o Ministério da Educação, já quis extinguir o Ministério da Saúde, já quis acabar com o cargo de primeiro-ministro. As posições do Chega não são para levar a sério”.
Sublinhando as listas de espera para consultas e cirurgias, Ventura acusou, por seu lado, Pedro Nuno Santos de ser o “rosto do maior falhanço do governo”, já o líder socialista destacou que “a receita do Chega é a mesma da IL e AD, desinvestir no SNS” e que “os pacientes preferem esperar no SNS porque confiam no SNS”.
Já o líder do Chega diz que não quer que o setor privado substitua o público, mas sim ” garantir que privado, social e público lutem pelo cidadão”. “O sistema já é misto”, argumenta, defendendo a reintrodução das parcerias público-privadas (PPP) na saúde.
Ventura diz que Pedro Nuno “é o ministro trapalhadas”, “sou um ministro com resultados para apresentar”, responde o líder socialista.
Uma das saídas ao ataque com maior vigor de Pedro Nuno Santos ocorreu quando o foco mudou para a política fiscal e acabou na gravata laranja de André Ventura. Sobre o tema dos impostos, o líder socialista acusa o Chega de “baixar impostos, acabar com uma série de impostos” e de ter “resposta para toda a gente”, “não é para levar a sério”, vinca.
“André Ventura não está preocupado se o programa é viável ou não. Está preocupado em enganar as pessoas para um projeto para o qual não tem solução. Essa nunca foi a sua preocupação, por isso é que está constantemente a mudar de posição”. E foi aí que entrou a gravata do líder do Chega.
“Aliás, começa a sua carreira no PSD, não deve ser por acaso que traz a gravata perto de cor de laranja” (“Gosta”, provoca Ventura pelo meio), e esteve “caladinho, sem dizer uma palavra” durante o protesto dos polícias em 2013. “não era dirigente”, justifica-se Ventura.
“Foi sempre esse o objetivo”, aprofundou Pedro Nuno Santos sobre André Ventura, “ser um político do sistema a tentar subir no sistema com propostas cheias de falsidades e com um programa de irresponsabilidade financeira”
“Nem o parceiro que tanto deseja o leva a sério”, ataca novamente o líder do PS, referindo-se à estratégia de “não é não” de Montenegro.
Já Ventura descreveu Pedro Nuno Santos como “o ministro trapalhadas”, lembrando a polémica da TAP e acusando-o de gerir esse dossier através do Whatsapp. Acusou-o também de, durante o seu período no governo o país ter registado “a construção mais baixa do século”, apontou, mostrando um gráfico.
“Isso são números da construção privada”, corrigiu Pedro Nuno Santos, acusando Ventura de “mentir” os argumentos que dá. “Sou um ministro com resultados para apresentar”.
Já Ventura acusou Pedro Nuno de “não conhecer o que fez no governo” e sublinhou que o gráfico diz respeito a “todo o tipo de construção”. “Houve uma crise financeira brutal que destruiu o setor da construção, não sabe do que está a falar”, referiu o socialista.