26 C
Loanda
Quinta-feira, Novembro 21, 2024

Partidos e sociedade civil preocupados com limites à democracia em Moçambique

PARTILHAR
FONTE:DW

É importante que os partidos e as instituições “se reinventem e encontrem meios alternativos”, para que a democracia em Moçambique não continue a ser afetada, defende o Instituto para Democracia Multipartidária.

O Instituto para Democracia Multipartidária (IMD) afirma que se constatou, em 2020, com bastante preocupação que a democracia interna dos partidos políticos foi “bastante beliscada”, porque estas organizações, no seu todo, não puderam realizar os seus encontros para avaliar o processo eleitoral, definir estratégias pós-eleitorais ou aprovar planos visando assegurar o seu funcionamento.

“Este facto pode criar uma sensação um pouco de ditadura das lideranças dos seus partidos que não podem, por conta da Covid-19, interagir com os membros que são eleitos para assessorá-los nos intervalos entre os congressos”, referiu Dércio Alfazema do IMD, uma organização da sociedade civil.

Falando numa mesa redonda que juntou esta terça-feira (02.03), em Maputo, políticos e académicos, Dércio Alfazema defendeu igualmente que o Parlamento deve abrir-se e ser mais dialogante. “Houve matérias problemáticas no ano passado em que a sociedade civil levantou as suas questões, mas essas questões não foram acolhidas pelo Parlamento e, mesmo depois do Parlamento tomar as decisões, não procurou dar o retorno à sociedade civil”, lembrou.

“Bipolarização” entre RENAMO e FRELIMO
Nos últimos três anos, os dois partidos da oposição com assento parlamentar registaram a morte dos seus líderes, nomeadamente Afonso Dhlakama, da RENAMO, e Daviz Simango, do MDM. Isto acontece numa altura em que Filipe Nyusi cumpre o seu segundo e último mandato como chefe de Estado.

“Se nós como sociedade nos unirmos e olharmos para os ideais desses dois senhores que perderam a vida, infelizmente, acredito que o nosso futuro pode ser promissor. Agora, olhando para esses últimos anos que faltam do mandato do Presidente Nyusi, é preocupante porque o que nos espera são anos difíceis, porque há uma desaceleração da nossa economia, isso terá as suas consequências, talvez hoje não mas no futuro.”, respondeu Augusto Pelembe do MDM, a terceira força política do país, quando questionado pela DW África sobre o futuro politico de Moçambique.

Por seu turno, o porta-voz da FRELIMO, Caifadine Manasse, considerou que “o processo democrático em Moçambique está a correr bem, os atores da sociedade estão a responder e as expetativas são boas. O Presidente Nyusi continuará a trabalhar de forma a que esta consolidação do Estado de Direito democrático se afirme cada vez mais no país”.

Já Venâncio Mondlane, da RENAMO, afiemou que uma das preocupações das pessoas é uma nova “bipolarização” entre a RENAMO e a FRELIMO. “As pessoas acham que devíamos ir para um pluralismo democrático. Mas se a preocupação é essa, eu acredito bastante nessa juventude. O importante é criarmos as condições para que as iniciativas de política, a liberdade política, económica e social não sejam coartadas”, defendeu.

Maior diálogo interno nos partidos
Dércio Alfazema chama a atenção “para a necessidade de maior diálogo interno ao nível dos partidos, o que não está exatamente neste momento a acontecer.” Defende ainda que “é preciso que estes novos líderes políticos também sejam mais abertos, mais dialogantes e que também saiam à rua para partilhar aquilo que são as suas ideias sobre como é que eles veem o país e qual é a contribuição que eles pretendem dar face a esses novos desafios que diariamente vamos tendo.”

Os três partidos com assento parlamentar saudaram a recente rendição de André Matsangaíssa Júnior, um dos homens fortes da autoproclamada “Junta Militar” da RENAMO que protagoniza ataques no centro do país.

No encontro desta terça-feira (02.03) também foi defendida a necessidade de se garantir maior eficácia no processo de reintegração das forças residuais da RENAMO com ações de longo prazo e a criação de instituições de apoio a este processo. No entanto, os partidos divergiram em relação à forma como está a ser gerida a Covid-19, tendo a FRELIMO elogiado o Governo enquanto a oposição fez várias críticas ao processo.

Outro tema que mereceu a atenção dos presentes foram os ataques armados na província de Cabo Delgado, tendo se registado apelos a um maior envolvimento do Parlamento nas decisões sobre a matéria e ao fim de um “blackout à cobertura jornalística” relacionada com a violência.

spot_img
ÚLTIMAS NOTÍCIAS
spot_imgspot_img
ARTIGOS RELACIONADOS

Botswana e Moçambique duas visões opostas da África Austral

Estes últimos dias, ocorreu uma história de duas transições na África Austral. Primeiro as boas notícias. O Botswana, com...

Vários mortos nas manifestações em Moçambique

Várias cidades de Moçambique foram este sábado (02.11) palco de protestos contra os resultados eleitorais. Há registo de, pelo...

Tensão política em Moçambique atinge ponto crítico após eleições contestadas

Os moçambicanos preparam-se para mais turbulência política na sequência do apelo do líder da oposição, Mondlane, para uma semana...

Crise política agrava-se em Moçambique com manifestantes e jornalistas atacados esta manhã em Maputo pela polícia

A Polícia moçambicana dispersou esta manhã, 21 de outubro, uma manifestação no centro de Maputo, convocada pelo candidato presidencial...