Entre prosa e poesia, o hino da República e os meninos do Huambo, temos Ricoseco e Quem me dera ser Onda, duas obras indispensáveis da literatura angolana
Nasceu em Nova Lisboa, quando a cidade do Huambo assim se chamava, em 4 de Novembro de 1941, e recebeu o nome de Manuel Rui Alves Monteiro.
Estudou no Huambo e licenciou-se em Direito na Universidade de Coimbra, em Portugal, onde exerceu advocacia junto de alguns advogados que defendiam os presos políticos que se opunham ao regime salazarista. A mãe negra, do Norte de Angola, e o pai branco, um anti-salazarista e anti-colonialista, são também a sua identidade, e, através da biblioteca paterna, uma primeira visão de um mundo mais justo e igualitário.
De regresso a Angola, a partir de 1974 exerceu vários cargos no governo, entre outros, foi ministro da Informação, naquele tempo, e mais do que hoje, que era também da propaganda, e são dele as palavras que desde então todos cantam “levantemos nossas vozes libertadas para glória dos povos africanos marchemos, combatentes angolanos solidários com os povos oprimidos” que fazem o hino da República.
É um escritor eclético que espalha palavras pela ficção, poesia, contos infantis. É membro fundador e subscreveu a proclamação da União de Escritores Angolanos, da União dos Artistas e Compositores Angolanos e da Sociedade de Autores Angolanos.
Luís Gaivão, um académico português, apaixonado pela vida e obra de Manuel Rui e que em Luanda apresentará, em dia de aniversário do escritor, a obra O Sul descolonizado na Obra de Manuel Rui,
destacou para o Expansão dois livros de Manuel Rui, o primeiro Rioseco, de 1997, que é um livro “profundamente africano, profundamente angolano” em tempo de guerra civil, e Quem me dera ser Onda, de 1980, que representa a internacionalização Manuel Rui e que Gavião considera “uma obra genial”, quando Manuel Rui se posiciona definitivamente contra qualquer espécie de tirania e ao lado dos mais pobres, desfavorecidos e perseguidos.
O académico português destaca ainda a poesia de Manuel Rui como uma poesia “belíssima” escrita em português e umbundo, como é o caso de Ombela.
O 80.º de Manuel Rui é também uma oportunidade para revisitar a sua obra num país onde as livrarias estão desoladamente de prateleiras vazias.