Os países africanos produtores de petróleo começam a manifestar a sua oposição às tentativas de os forçar a reduzir a sua produção como parte dos programas de combate às alterações climáticas.
Alguns países africanos não produtores, como é o caso da África do Sul, apoiam essa causa, manifestando publicamente o seu desacordo com planos que possam forçar os países africanos a reduzir a produção dessa fonte de riqueza.
Por coincidência ou não, com a Cimeira do Clima a terminar em Glasgow na Escócia, está realizar–se no Dubai a Semana de Petróleo África (Africa Oil Week) em que representantes de diversos países africanos disseram que não tencionam reduzir a sua produção e, pelo contrário têm planos para a aumentar de acordo com os seus interesses.
Os países africanos fazem notar que o continente é responsável por apenas 3,7% das emissões de CO2, um indício claro do seu subdesenvolvimento e que, portanto, precisam de usar os seus recursos para financiar o seu crescimento.
Atrasos em África e as reservas
A África tem no seu conjunto uma população 1.200 milhões de habitantes, metade da qual não em acesso a electricidade, o equivalente a toda a população da União Europeia.
As reservas conhecidas de petróleo em África ascendem a mais de 100 mil milhões de barris espalhados por 11 países, incluindo Angola com 8.500 milhões de barris de reservas conhecidas.
Em conjunto, Moçambique, Nigéria e Argélia têm cerca de 6% das reservas de gás do mundo.
“Queremos desenvolver os nossos recursos em África ,tal como os nossos irmãos no Ocidente o fizeram”, disse John Munyes, ministro dos Petróleos e Minas do Quénia.
Por seu turno, o ministro das Minas, Petróleo e Energia da Costa do Marfim, Thomas Camara, afirmou que os países africanos “compreendem que há que mitigar os danos ao planeta e é por isso que assinámos um plano de transição energética”.
“Mas as nações africanas têm que garantir o acesso à energia da nossa população. Não vamos virar as nossas costas às companhias de petróleo e gás porque temos que assegurar a felicidade e mesmo a existência das nossas populações”, acrescentou.
Andrew Mercer, vice-ministro da energia do Gana, onde o petróleo foi descoberto em 2007, afirmou que quer usar os rendimentos de petróleo e gás na construção de infra-estruturas.
O ministro disse que o seu Governo “acredita fortemente no petróleo e gás” para assegurar as necessidades energéticas do país.
Na conferência, vários países têm estado a apresentar possibilidades de investimento no sector de petróleo e gás e alguns deles, como Angola, dizem que tencionam aumentar a sua produção.
Luanda já indicou que vai desenvolver mais campos petrolíferos em blocos de exploração em terra em 2023 e “off-shore” em 2025.
As projecções apontam para um aumento da produção angolana nos próximos anos até 2031 acima dos 1,3 milhões de barris dia actuais.
O apoio de países africanos não produtores
A resistência a planos de redução por parte dos países africanos está agora a encontrar apoio entre os países não produtores do continente.
Ao falar nesta semana na Semana da Energia Africana (Africa Eenergy Week) na Cidade do Cabo, o ministro sul-africano da Energia e Recursos Mineiros, Gwede Mantashe, apelou aos países africanos que formem urgentemente uma frente unida para resistirem às pressões globais para abandonarem os combustíveis fósseis.
Manstashe sublinhou que África é um dos continentes menos poluidores e afirmou que os países africanos devem rejeitar “ser convertidos em condutas para ideias das economias desenvolvidas”.
“Estamos a ser pressionados, mesmo obrigados, a afastar-nos de todas as formas de combustíveis fósseis, incluindo recursos como gás, que foram considerados como um recurso chave para a industrialização”, advertiu o ministro sul-africano.
“Penso que a África tem que se unir para desenvolver uma estratégia para fazer face a esta realidade”, acrescentou aquele governante para quem o continente “tem que colocar o petróleo e gás na frente do crescimento energético global”.
Cortes no crédito vão ser entrave aos planos africanos
Um dos problemas que os países africanos poderão ter que enfrentar nos seus planos para crescimento dos seus campos de exploração de petróleo e gás é o investimento de companhias petrolíferas que fazem face a crescentes pressões financeiras e económicas para se afastarem desses investimentos.
Há planos para o fim de subsídios estatais de países ocidentais e pressões de ambientalistas e mesmo accionistas de bancos para estes reduzirem ou eliminarem créditos destinados à exploração de combustíveis fósseis numa altura em que países como Angola fazem face à redução de produção devido à falta de investimentos em campos de exploração em águas profundas.
Notícias recentes indicaram que a ExxonMobil estaria a considerar abandonar um projecto de gás em Moçambique precisamente devido a essas pressões.
A ExxonMobile negou que iria retirar-se do projecto mas não deu uma data para o seu início suspenso há vários meses
Paul McCaffferty, vice-presidente para África da companhia norueguesa Equinor, disse ser preciso estabelecer “processos que nos permitam converter uma descoberta em produção o mais rapidamente possível porque o relógio está a andar em termos de uma transição energética”.
As propostas da África do Sul
O ministro sul-africano afirmou que para fazer face a estas pressões e restrições os países africanos deveriam trabalhar para criar uma instituição financeira africana para angariar capital para investimentos em gás e petróleo no continente.
Mantashe, que descreveu de “ocos” os acordos globais de combate às alterações climatéricas, sugeriu também dar-se prioridade ao comércio inter-africano de combustíveis fósseis.
Muitos dirigentes de países africanos fazem notar que, recentemente, quando os países ocidentais fizeram face a um aumento dos preços de combustíveis apelaram subitamente ao aumento da produção por parte dos países produtores de petróleo e carvão.
“Todos notaram isso ao mesmo tempo que nos dizem para acabar com a produção de carvão imediatamente”, disse o ministro dos Recursos Minerais e Energia da Africa do Sul onde a maior parte da energia do país depende do carvão.
“Isto é uma questão que devemos discutir sem medo”, concluiu Mantashe.