Mário Rui Leal Pedras, pároco em São Nicolau e Santa Maria Madalena, diz que a sua honra e reputação foram afetadas “por um golpe cobarde” e que irá fazer o que estiver ao seu alcance para repor a verdade
O padre Mário Rui Leal Pedras enviou, esta quarta-feira, uma mensagem aos paroquianos de São Nicolau e Santa Maria Madalena, em Lisboa, onde revela que foi um dos párocos afastados pelo Patriarcado de Lisboa na terça-feira depois de lhe ter sido comunicado, no dia anterior, que o seu nome consta da lista de abusadores entregue pela Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja à Comissão de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis nos dias 15 e 16 de março.
Segundo Mário Pedras, “trata-se de uma denúncia anónima”, onde “alguém refere ter sido vítima de abusos” durante a década de 90, altura em que o padre ” frequentava o 8.º ano, num colégio da periferia de Lisboa”.
“A notícia assim transmitida chocou-me profundamente. Quero dizer-vos que essas imputações são totalmente falsas. Ao longo da minha vida sacerdotal não pratiquei o que quer que fosse de censurável, seja pelo prisma da lei canónica, pelo prisma da lei civil ou da ética comportamental”, escreve.
Reiterando que se trata de uma denúncia anónima, sem nenhuma identidade ou nome “da inventada vítima (quem denunciou anonimamente poderia indicar um qualquer nome)”, ou qualquer “pista para levar a cabo uma investigação, referindo, por exemplo, o nome de potenciais testemunhas que tivessem algum conhecimento sobre o tema”, o padre diz mesmo que a denúncia é “falsa, caluniosa, sem qualquer elemento útil ou prestável para investigação”.
“Porém, apesar de assim ser, esta calúnia deixa-me numa situação delicada. Vejo a minha honra e a minha reputação serem afectadas por um golpe cobarde, cuja existência não consigo entender nem explicar. Procurarei fazer tudo o que estiver ao meu alcance para desmascarar quem me difamou, restaurando a minha honra, agora visada, livrando-a de qualquer mácula ou suspeita. Analisarei quais as vias possíveis para reclamar judicialmente a reparação que me é devida, sabendo, todavia, que o carácter anónimo da denúncia poderá comprometer este meu propósito”, acrescenta.
O padre adianta, no entanto, que apesar de “nada” ter feito “de errado, de desrespeitador, ou de criminoso”, se colocou à disposição do “Patriarca de Lisboa, para que tomasse as medidas cautelares” e que por isso foi “abrangido no grupo de sacerdotes que deixa o exercício público do ministério enquanto decorrerem as diligências processuais”.
Sacerdote há 41 anos, Mário Pedras diz que aceita o afastamento “com uma sensação dolorosa de enorme injustiça”, com “esperança de poder estar a contribuir para o bem maior da Igreja”.
“Quem não deve não teme. E eu não temo. Tudo farei para que a verdade seja reposta, para que nenhuma dúvida sobreviva e tudo entregarei, na oração, no coração de Deus”, termina.
No passado dia 10, o Patriarcado de Lisboa tinha anunciado a receção de uma lista de 24 suspeitos de abusos, cinco dos quais padres no ativo. Destes 24 nomes, segundo o Patriarcado de Lisboa, oito nomes diziam respeito a sacerdotes já falecidos, dois eram padres doentes e retirados do ministério, três a sacerdotes sem qualquer nomeação, quatro são nomes desconhecidos, além de um leigo e de um ex-padre. No entanto, esta terça-feira, o Patriarcado de Lisboa anunciou que afastou quatro sacerdotes que estão no ativo e que estão na lista de suspeitos de abusos sexuais, tendo o seu afastamento sido determinado pelo cardeal-patriarca, Manuel Clemente, depois de uma recomendação da Comissão Diocesana.