Pequim garante que a Austrália e o Japão “vão pagar o preço correspondente” caso o seu novo pacto de defesa ponha em causa a segurança da China. Este acordo, que está a ser finalizado, permitirá às forças militares dos dois países treinarem nos territórios um do outro, numa altura em que ambos tentam ultrapassar crescentes tensões com a China.
“O novo acordo acelera a atmosfera de confronto na região da Ásia-Pacífico”, considera Pequim, acreditando que o pacto foi alcançado com o intuito de atingir a China.
Por essa razão, Austrália e Japão “vão seguramente pagar o preço correspondente caso os interesses nacionais e a segurança da China sejam ameaçados”. O aviso foi feito através do jornal Global Times, detido pelo Governo chinês.
O pacto de defesa, que deverá ser finalizado em 2021, refere que “a Austrália e o Japão, enquanto democracias liberais e baseadas no comércio, têm muito em comum, incluindo interesses estratégicos”.
Quando finalizado, o pacto entre as duas nações irá marcar a primeira vez em 60 anos que Tóquio permite a forças militares estrangeiras que operem no seu território. Ao abrigo do documento, serão facilitadas questões como taxas alfandegárias ou entraves jurídicos.
O acordo preliminar foi alcançado na terça-feira, durante uma visita do primeiro-ministro australiano ao Japão, e deverá levar ao aumento da cooperação e de exercícios militares conjuntos entre os dois países – incluindo, eventualmente, no mar da China Meridional.
Austrália garante que China não tem motivo para preocupações
O Global Times considera que o pacto “fornece uma nova alavanca aos Estados Unidos para dividir a Ásia” e que Japão e Austrália “estão, de forma imprudente, a dar o primeiro passo para uma cooperação na defesa que pretende atingir um terceiro actor”.
“Sugerimos que o Japão e a Austrália se contenham no modo como estão a formar uma aliança militar contra a China”, lê-se no jornal, que acrescenta que Pequim “dificilmente permanecerá indiferente às jogadas norte-americanas de incitar outros países a aliarem-se contra a China”.
Assim sendo, o Governo chinês avisa que Austrália e Japão “não devem criar confrontos com a China sob a instigação dos Estados Unidos, tal como não devem seguir os passos dos EUA ao tentar forçar a Índia a opor-se contra a China”.
O Governo australiano já reagiu à ameaça chinesa, tendo esta quarta-feira apelado ao diálogo com Pequim de modo a resolver aquela que considera ser uma discussão diplomática latente que levou a China, no decorrer deste ano, a tomar uma série de ações comerciais contra a indústria exportadora da Austrália.
O primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, para quem o acordo revela “uma evolução significativa da relação entre Canberra e Tóquio”, já garantiu que “não há razão para que tal cause qualquer preocupação à China”.
“Penso, aliás, que contribuirá para a estabilidade da região, o que é uma coisa boa”, sustentou o chefe de Governo. “O sucesso económico da China é algo bom para a Austrália e para o Japão”, explicou, acrescentando que nenhuma das partes vê Pequim como um adversário estratégico.