Os países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) retomaram, nesta quarta-feira (15), o delicado debate sobre o aumento das despesas com a defesa, à luz dos efeitos da guerra na Ucrânia.
Este conflito levou os países do bloco a destinarem bilhões de euros à entrega de armas à Ucrânia, uma situação que coloca sob forte pressão os orçamentos de defesa nacional dos países da aliança.
Diante desse quadro, ressurgiram as vozes dos países que pressionam para aumentar os gastos com defesa nacional para além de 2% do PIB, antes de uma cúpula marcada para a Lituânia em julho.
Nessa visão, a guerra na Ucrânia significa que 2% deve se tornar a base mínima para gastos com defesa e não o teto máximo.
“Deveria ser um piso e outro um teto”, disse um funcionário.
O ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, disse no início do debate que, em sua opinião, “querer chegar mais perto da meta de 2% não será suficiente. Deve ser a base para todo o resto”.
Outros países são mais cautelosos, cientes do efeito que um aumento nos gastos militares teria em seus orçamentos nacionais.
“2% está bom, mas também temos que garantir alguma flexibilidade, porque os países são diferentes”, disse o ministro da Defesa de Luxemburgo, François Bausch.
A Otan havia adotado a meta de 2% há 16 anos, mas a crise econômica de 2007 e 2008 levou a cortes significativos.
Atualmente, analistas consideram que apenas nove dos 30 países da aliança militar transatlântica atingiram esses 2% do PIB em gastos militares.
Nesse quadro, de um lado estão os países do Leste Europeu, que se sentem ameaçados pela Rússia e pedem aumento de gastos para 2,5%. Do outro lado, há países como Espanha, Luxemburgo ou e Itália, que preferem uma postura mais cautelosa.
– Discussão sensível –
O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, alertou na segunda-feira que, em sua resistência à ofensiva da Rússia, a Ucrânia está usando uma quantidade de munição bem acima da capacidade de produção da Otan.
Este cenário, acrescentou, deixou os orçamentos e reservas de defesa dos países que integram a aliança sob “forte pressão”.
A única maneira de manter o fluxo de ajuda militar para a Ucrânia e fazer com que os países da Otan reabasteçam suas defesas é fortalecer os contatos com as indústrias nacionais de armas para acelerar a produção.
Neste cenário, um responsável dos Estados Unidos opinou nesta quarta-feira na sede da Otan que na sua visão “a conclusão óbvia é que 2% não é suficiente (…). Diria que a maioria dos aliados está nessa posição”.
Os Estados Unidos são o principal contribuinte, já que respondem por cerca de um terço dos gastos da aliança.
No entanto, o aparente consenso era que essa discussão só seria retomada em julho, na reunião marcada em Vilnius, mas é claro que a situação na Ucrânia acabou acelerando o tempo.
O ministro da Defesa francês, Sebastien Lecornu, adotou um tom de cautela e disse que o fundamental é garantir o uso efetivo dos recursos provenientes desses 2%.
“O que realmente conta são 2% de gastos úteis e efetivos”, afirmou.
Lecornu lembrou que a França já anunciou um orçamento sem precedentes de 413 bilhões de euros para as suas Forças Armadas entre 2024 e 2030, para a modernização generalizada, aquisição de novas tecnologias e contribuições para as missões da Otan.