O governo angolano entregou esta quarta-feira 8, as ossadas de quatro vítimas do 27 de Maio de 1977, entre as quais os restos mortais de Nito Alves, suposto líder de uma alegada tentativa de golpe de Estado ocorrido nesse dia e que resultou subsequentemente na prisão e morte de milhares de pessoas.
A filha de Arsénio Lourenço Mesquita “Sihanouk” morto por ocasião dos acontecimentos de 27 de Maio de 1977, manifestou um sentimento de gratidão e tristeza ao receber os restos mortais do pai nesta quarta-feira, 8, em Luanda.
Também hoje, o presidente da Comissão para a Implementação do Plano de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (CIVICOP) entregou às famílias as ossadas do antigo ministro do Interior de Angola, Nito Alves, de Jacob João Caetano “Monstro Imortal”, e de Ilídio Ramalhete, mortos na mesma ocasião.
Os corpos vão ser sepultados no próximo domingo.
“O sentimento é misto, um bocado gratidão e um bocado tristeza, é um processo que vem com um ligeiro atraso pelo facto de serem 45 anos, mas nos traz tranquilidade, a sensação de orgulho porque vamos ter direito ao que nosso pai prestou quer do ponto de vista militar e do pronto de vista politico”, comentou Yura Misquita.
Por seu lado, Flor Bela Caetano João Jacob, filha de Jacob João Caetano mais conhecido por “Monstro Imortal”, conta quanto foram discriminadas nestes mais de 45 anos do desaparecimento do pai.
“Agradeço a Deus e ao senhor Presidente da República, agora vou poder levantar a cabeça porque antes quando se falasse do 27 de Maio éramos discriminadas”, disse.
Da parte do Governo, o ministro da Justiça e Direitos Humanos afirmou que o acto de entrega dos corpos visa cumprir uma merecida homenagem aos que tombaram naquele dia.
“Com este acto não se pretende apagar da história um triste acontecimento do 27 de Maio, pretende-se, sim, cumprir um dever de justiça para com a família e prestar uma merecida homenagem”, disse Francisco Manuel Monteiro de Queiroz.
O governante acrescentou que “não é hora de perguntar de que lado estavam os que morreram. Não é hora de saber em que ideia acreditava cada um dos que morreram. Não é hora de indagar razões porque cada um matou ou foi morto. É hora de abraçar e de perdoar, é hora de nos reconciliarmos. É hora de esquecer as mágoas, de darmos as nãos e juntos, como irmãos, construirmos Angola nossa mãe”.
As vítimas
Nito Alves, apontado como líder do movimento denominado “fraccionista” e que, segundo o MPLA, pretendeu dar um golpe de Estado, foi preso já depois do dia 27 de Maio e foi fuzilado em local desconhecido juntamente com outras vítimas.
“Monstro Imortal” foi combatente da luta de libertação e após a Independência ocupou posições de chefia dentro das Forças Armadas Angolanas.
O Presidente angolano, João Lourenço, ordenou en 2019 a criação de uma comissão para elaborar um plano geral de homenagem às vítimas dos conflitos políticos que ocorreram em Angola, entre 11 de novembro de 1975, ano da independência de Angola, e 04 de abril de 2002, data que simboliza o fim de décadas de guerra no país.
O Plano de Reconciliação em Memória às Vítima de Conflitos Políticos prevê, a construção de um memorial único para todas as vítimas dos conflitos políticos registados no país.