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Sexta-feira, Novembro 22, 2024

Os partidos políticos e o interesse nacional

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FONTE:JA

“Os partidos hoje afirmam-se mais pelo bem sucedido do seu marketing do que pelas suas convicções e as suas ideologias.”

“Diante das inquietudes e da crescente desesperança que suscita a frágil e preocupante situação social que vivemos – em matéria sobretudo de saúde, educação, emprego, habitação e bem estar da maioria – algumas vozes têm-se pronunciado publicamente sobre a necessidade de uma “nova reconciliação”… De um “pacto” entre partidos, envolvendo o que está no poder e os que são oposição.

Embora um tal pacto seja desejável e de defender, é muito improvável que se alcance, tão flagrante é o jogo sujo nas disputas entre partidos e dentro dos partidos, uma prática considerada politicamente justificável. Como uma maleita infecciosa que vem corroendo, desde há muito, as virtudes dos seus membros. Falta algo como um alicerce moral, um remédio eficaz, ou uma bondade básica. O que corrói os “partidos” é o facto de – apesar das intenções patrióticas e revolucionárias que possam ter estado na base da sua criação – aos mesmos se terem progressivamente associado interesses que nada têm a haver com o país, nem com a resolução dos “problemas do povo”. Mas sim o alcance e a preservação do poder, que garanta aos dirigentes e quadros partidários a captura do Estado, permitindo-lhes a obtenção de vantagens e privilégios.

Serão provavelmente muitos os angolanos que tenham já sido levados – em momentos como os que vivemos – a indagar-se sobre a utilidade (e a legitimidade) dos partidos políticos, tal como eles funcionam e actuam.

E não seria de espantar constatar-se que essa indagação se levante em países com trajectórias históricas semelhantes à nossa. A maioria dispõe hoje de partidos como forma – quase sempre constitucional – de fazer funcionar, no modelo adoptado, a política e a sociedade…

Mas será razão suficiente para justificar a continuidade da sua existência?
A influência e o controle que exercem sobre as instituições (dos poderes executivo, legislativo, judicial e mediático), sobre a Economia, a Cultura e a Academia, acaba por ser o que determina a eficiência (ou a perversão) do funcionamento do Estado, da qual depende a qualidade de vida dos cidadãos.

Mas seria um profundo erro pensar os partidos políticos como uma fatalidade. Ao considerar-se tabu (ou incitação a “não-pensar”) a ideia de uma sociedade poder viver sem partidos políticos, apenas se está a encorajar o não se sair da acomodação, preservando o status-quo.

É certo que hoje, por todo o lado, os partidos políticos passaram a ser actores de primeiro plano no funcionamento das “sociedades modernas”. E foi seguindo essa tendência que nos para ajudar a localizar as palavras/frases a colocar em itálico, sublinhamo-las a amarelo. obrigado. nossos países africanos se criaram formas de organização política similares às dos “países desenvolvidos” que nos colonizavam. Confrontados com a difícil situação de ter de escolher serem “mais à esquerda” ou “mais à direita” e ao mesmo tempo herdeiros da libertação.

Mas qual a verdadeira utilidade dos partidos políticos que actualmente regulam o funcionamento da nossa sociedade, se pensarmos na crescente distância entre os propósitos que proclamam, e a melhoria da situação do país?
“Não será crucial que se adopte uma forma de governar inclusiva, em que os actores não partidários tenham um papel essencial a desempenhar no controlo cidadão, na fiscalização da acção governativa e na gestão do que é público (a todos os níveis)?” – sugeríamos nesta mesma coluna, recentemente.

Será que os presidentes dos partidos poderiam tornar-se líderes consensuais e integradores, e promover um tal pacto?
Os aparelhos partidários que tudo fazem para garantir a sua hegemonia e para defender os seus interesses de grupo, seriam capazes de se transformar em simples servidores do Estado? E por fim, mas não menos importante, os níveis de educação patriótica e de consciencialização dos cidadãos permitem que uma tal (eventual) mudança seja realizável?

A acomodação e o frágil mas apetecente conforto de estar no poder; a falta de vontade de fazer da reflexão e do debate a chave da concertação; os hábitos adquiridos de uma prática política “em nome do povo” mas sem verdadeiramente o envolver (que se impôs ao longo de 48 anos); a marginalidade – e as fragilidades – da reflexão académica; e a dissociação entre Política e História, e entre Cultura e política que afectam tão profundamente os aparelhos, os dirigentes, os quadros e os militantes dos partidos políticos nacionais – fazem recear estarmos longe de se poder chegar a uma mudança.
Nestas condições, qualquer “pacto” tem assustadoras probabilidades de ser mais uma manobra política, uma “solução circunstancial”, não profunda. A menos que nos puséssemos cada um, antes de pensar nos seus partidos políticos, a pensar no país e no seu povo.

Uma nova motivação nos animaria: a luta por uma Nação e um Estado muito mais fortes, onde as regras fundamentais para o seu funcionamento sejam supra-partidárias. Cidadãos que não devam obediência aos interesses dos partidos e servissem, mais do que nada, o interesse nacional.
(enxergue tirado da entrevista concedida por Francisco Queirós ao JA por ocasião do lançamento do seu livro “O Império Kassitur na Dinastia Sekele”, em 27/12/2020)

Apusindo Nhari

*Académico angolano independente

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