O major Pedro Lussati é o protagonista de uma burla que lesou o Estado angolano em mais de 60 milhões de dólares num processo de dezenas de páginas que conta com um longo elenco de 51 arguidos e 213 testemunhas
A Procuradoria-Geral da República (PGR) já deduziu acusação a partir do processo “Operação Caranguejo”, que tem como arguido principal o antigo membro da Casa de Segurança do Presidente da República, o Major Pedro Lussati, detido desde Junho deste ano.
Apanhado na posse de milhões de dólares e kwanzas, e de algumas centenas de euros, em caixotes, malas e viaturas, bem como sendo protagonista de uma vida extravagante e estupidamente luxuosa, Lussati é o rosto visível de uma fraude tentacular de contornos ainda não totalmente esclarecidos. É possível que em tribunal se possa ficar a saber como é que um major do exército angolano que recebia um salário de cerca de 700 mil kwanzas podia acumular uma fortuna de contornos quase obscenos – com casas e terrenos em Luanda e no Lubango, casas em Lisboa e no Porto, em Portugal, e duas dezenas de viaturas.
Segundo a acusação da PGR, foram constituídos 51 e arroladas 213 testemunhas. Temos, pois, um longo processo que, por certo, levará anos para estar concluído.
Entre os crimes imputados aos arguidos estão peculato, recebimento indevido de capitais, associação criminosa, branqueamento de capitais, comércio ilegal de moeda e abuso de poder.
No caso do major Pedro Lussati, responsável pela elaboração de folhas de salário e planos de pagamento da Unidade Especial de Desminagem, da banda de música, da Unidade de Destinação Especial e de toda a Secretaria-Geral da Casa de Segurança do Presidente da República, no caso, já João Lourenço – e como se pode ver, unidades dadas a alguma opacidade -, a acusação conclui que terá desviado elevadas somas de dinheiro no decurso das suas funções.
O esquema fraudulento prosseguiu entre os anos de 2008 e 2018, e durante esses anos, pelo menos são essas as contas da PGR, terão sido desviados cerca de 62 milhões de dólares da Casa de Segurança do Presidente da República, o mesmo é dizer… dos cofres Estado.
Em julgamento, e pela qualidade dos agentes envolvidos, muitos deles próximos de elementos próximos do poder político, espera-se que mais informação venha a público.
Por agora, temos que a “Operação Caranguejo” fez rolar uma cabeça, e não foi uma cabeça qualquer, mas a do general Pedro Sebastião, entretanto substituído pelo general Francisco Furtado como chefe da Casa de Segurança do Presidente da República.