A dimensão da tragédia é para já incalculável, avisa a ONU que, ontem, lançou um primeiro pedido de ajuda de mais de 66 milhões de euros para auxiliar cerca de 250.000 pessoas, ainda que quase 900.000 possam vir a precisar de ajuda.
No terreno, as buscas para encontrar sobreviventes continuam, mas grande parte dos acessos às zonas mais afectadas estão destruídos. A tempestade Daniel atingiu o leste da Líbia na tarde de domingo, mas a cidade costeira de Derna, de cem mil habitantes, concentra todas as atenções por ter sido varrida por algo comparado a um tsunami devido ao rompimento de duas barragens de domingo para segunda-feira que arrastaram casas, carros e pessoas para o mar.
Nem o governo do leste do país consegue fazer, para já, um balanço da catástrofe só em Derna. Um porta-voz do ministério do Interior falou em 3.840 mortos, enquanto o ministro falou em 2.794 nesta e outras cidades. A Cruz Vermelha e o Crescente Vermelho alertam para 10.000 desaparecidos. Para a ONU, pelo menos 30.000 pessoas ficaram sem abrigo em Derna.
Entretanto, o Programa Mundial de Alimentos começou a prestar ajuda a mais de 5.000 famílias e os Emirados Árabes Unidos enviaram dois aviões com 150 toneladas de ajuda. O Comité Internacional da Cruz Vermelha anunciou, nesta quinta-feira, que enviou equipas adicionais para distribuir ajuda humanitária e acrescentou que “forneceu 6.000 sacos mortuários”. Vários países do norte de África, do Médio Oriente, da União Europeia e os Estados Unidos também prometeram ajuda.
Houssam al Charif é voluntário nas operações de resgate e diz que ainda há pessoas à espera de serem socorridas: “Continua a haver muitos sobreviventes sob os escombros dos prédios que ruíram ou foram arrastados pela água das barragens. Graças a Deus alguns dentre eles foram salvos, entre quarta e quinta-feira. A Líbia não tem capacidade para enfrentar catástrofes desta dimensão, mas graças ao material de equipas de socorro estrangeiras que chegaram foi possível, felizmente, resgatar dos escombros 510 pessoas com vida. A lentidão das operações de resgate é o nosso único receio agora. Os corpos e o cheiro da morte são riscos graves para a saúde e poderão provocar doenças nas áreas afectadas. Caso as operações de socorro não consigam avanços mais rápidos, é muito provável que o acesso à zona seja reservado unicamente aos trabalhadores humanitários. Poderá ter que se efectuar a retirada de todos os moradores da zona atingida”, contou Houssam al Charif à jornalista da RFI Houda Ibrahim.