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Sexta-feira, Novembro 22, 2024

O que está por trás da surpreendente vitalidade da economia dos EUA?

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FONTE:AFP

Crescimento que desafia as previsões de recessão, sólida criação de emprego, forte consumo: a economia dos Estados Unidos continua surpreendendo, apesar das altas taxas de juros. Como se explica este aparente paradoxo?

– “O valor do talento” –

O baixo nível de desemprego, o aumento dos salários e das contratações sustentam o frenesi de consumo das famílias americanas.

Durante a crise do coronavírus, as empresas tiveram dificuldades em contratar, formar e reter os seus talentos. Neste contexto, muitas empresas pensam duas vezes antes de demitir funcionários e preferem reduzir as contratações, explica Gregory Daco, economista-chefe da EY, à AFP.

A consequência: “Maior resiliência do mercado de trabalho”, destaca o especialista. Além disso, empregadores que valorizam mais os seus funcionários: “Uma faceta única deste ciclo econômico é que o valor do talento mudou”.

O setor privado oferece menos empregos. Mas o setor público continuou com grande dinâmica e o governo, a saúde e a educação “impulsionam grande parte do crescimento do emprego”, destaca Kathy Bostjancic, economista-chefe da companhia de seguros Nationwide.

– Poder aquisitivo –

Os salários, depois de tanto subirem, acabaram crescendo acima da inflação, que vai se moderando aos poucos.

“O declínio da inflação e o aumento do poder de compra alimentam os fortes gastos do consumidor”, resume Julia Pollak, economista-chefe do site de anúncios de emprego ZipRecruiter, à AFP.

A quantidade de ofertas de emprego publicadas online tem diminuído regularmente desde o pico, em novembro de 2021, mas permanece historicamente alta, acrescenta Pollak, que destaca que os sinais de enfraquecimento do mercado de trabalho são visíveis: cada oferta de emprego disponível registrou em janeiro 30% mais candidaturas do que em janeiro de 2023.

– Gasto público –

Primeiro, o erário público faturou 2,2 trilhões de dólares (11,3 trilhões de reais na cotação da época) para enfrentar a crise da covid-19 em março de 2020; depois, 1,9 bilhão após um ano (10,9 bilhões de reais). Tanto o ex-presidente Donald Trump como o seu sucessor Joe Biden usaram artilharia pesada para sustentar a economia diante de uma crise sem precedentes.

Estes pacotes de ajuda certamente contribuíram para “pressões inflacionárias”, observa Dan North, economista da Allianz Trade da América do Norte.

Biden assinou imediatamente um plano de 1,2 trilhão de dólares para transportes e infraestruturas em novembro de 2021 (6,7 trilhões de reais na cotação da época), e depois o seu plano de ação climática de 750 bilhões de dólares em agosto de 2022 (3,7 trilhões de reais).

Resultado: quando o Federal Reserve (Fed, banco central) tentou arrefecer a economia aumentando as taxas de juros – uma medida que, ao tornar o crédito mais caro, desestimula o consumo e o investimento – “a política fiscal fez exatamente o oposto”, segundo North.

“Os subsídios oficiais para veículos elétricos, microchips e infraestruturas estimulam os investimentos empresariais quando as altas taxas de juros teriam, se isso não tivesse acontecido, reduzido” os gastos de investimento, acrescenta Julia Pollak.

Cerca de 30% do aumento do PIB no ano passado veio dos gastos públicos, o que representa 14% da economia, explica Gregory Daco.

– Taxas baixas, taxas altas –

As taxas altas não prejudicaram a economia porque as taxas de juros vieram de níveis muito baixos, próximos a zero. Em março de 2020, para enfrentar a crise da covid, o Fed baixou drasticamente o custo do dinheiro e só começou a aumentar as suas taxas dois anos depois.

Este contexto “permitiu às empresas emitirem dívida a taxas de juros muito baixas”, afirma North. “As empresas, no seu conjunto, pagam as taxas de juros mais baixas já registradas”, acrescenta.

As famílias também puderam aproveitar as taxas de juros excepcionalmente baixas nos empréstimos hipotecários, antes de estas começarem a subir novamente para os níveis atuais, que são os mais altos em mais de 20 anos.

– Tempo –

Os economistas dizem que leva tempo para que o impacto dos aumentos das taxas se reflita na economia real.

O último aumento das taxas de juros de referência por parte do Fed ocorreu em julho. E são necessários cerca de 18 meses para que o efeito total de um aumento se manifeste e esfrie a economia, explica North.

No entanto, para este ano, as perspectivas são positivas, com cortes nas taxas no horizonte em um contexto de moderação da inflação.

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