Analistas angolanos consideram que a imagem do MPLA, partido no poder sairá, uma vez mais, manchada se for comprovada a implicação do seu membro do Bureau Político, Irene Neto, filha do primeiro Presidente do país São Vicente.
Como revelou o porta-voz da Procuradoria-Geral da República (PGR), Álvaro João, à VOA, na sexta-feira, 18, aquele órgão enviou cartas rogatórias a Portugal e Luxemburgo a solicitar o congelamento de contas e a apreensão de bens de Irene Neto naqueles países europeus, bem como a colaboração das autoridades judiciais locais nas investigações.
Antes, segundo a Angop, a directora do Serviço de Recuperação de Activos da PGR, Eduarda Rodrigues, foi enviada Suíça, Portugal e Luxemburgo com o mesmo propósito, no quadro da investigação de vários crimes no processo da seguradora AAA, da Sonangol, na qual o marido de Irene Neto, Carlos de São Vicente, foi presidente.
O director do Observatório Político e Social (OPSA), Sérgio Calundungo, diz não ser justo que se impute à família de Agostinho Neto a responsabilidade pelos supostos actos de corrupção praticados por Irene Neto.
Calundungo defende, entretanto, que a imagem do MPLA será uma vez mais beliscada “por permitir no seu seio membros com atitudes socialmente condenáveis”.
Aquele responsável associativo diz que o mérito do Presidente João Lourenço reside no fato de, no ato da sua investidura, ter assumido que a corrupção seria combatida “nem que os primeiros a cair fossem os membros do seu próprio partido”.
Semear vergonha
O líder da SOS Habitat-Acção Solidária, André Augusto, também entende que o partido no poder em Angola será o principal prejudicado se forem comprovadas as suspeitas que recaem sobre a sua antiga deputada.
O activista angolano considera que a implicação de figuras do MPLA em actos de corrupção resulta da política de favorecimento e de nepotismo seguida por esse partido desde a independência do país.
“O MPLA não vai colher a felicidade porque andou a semear a vergonha”, conclui Augusto.
Família de Neto reage
A viúva e os três filhos do antigo Presidente e a Fundação António Agostinho Neto manifestaram-se contra a associação do nome do primeiro Presidente de Angola a processos em investigação contra Carlos Manuel de São Vicente, considerando “abusivo, calunioso e inamistoso referenciar o nome do seu patrono a propósito do combate à corrupção em curso no país”.
Num comunicado tornado público, a família de Neto disse que tinha “o dever de defender o nosso bom nome, dignidade e honra (…), na nossa família e na nossa Fundação ninguém é corrupto”.