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Sexta-feira, Novembro 15, 2024

O Brasil vai aderir à Iniciativa do Cinturão e Rota da China?

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FONTE:CGSP

Embora muitos países da América Latina tenham abraçado avidamente a iniciativa Cinturão e Rota da China (Belt and Road Initiative BRI, na sigla inglesa), 22 no total até o momento, o Brasil continua sem aderir ao BRI ao lado do México, Colômbia e Bahamas. Apesar dos esforços contínuos de Pequim para garantir o endosso do Brasil, Brasília continua a pesar as suas opções cuidadosamente, considerando plenamente as compensações políticas e económicas.

Economicamente, a China tem sido o maior parceiro comercial do Brasil desde 2009, com o comércio entre as duas nações crescendo de forma constante.

O Brasil e a China são aliados próximos com fortes laços políticos. Em 1993, o Brasil se tornou o primeiro país a estabelecer uma parceria estratégica com a China durante a visita do ex-presidente Jiang Zemin. Jiang retornou em 2001, reforçando a parceria. Esse relacionamento próximo continuou com visitas do ex-presidente Hu Jintao em 2004 e 2010, e do presidente Xi Jinping em 2014 e 2019.

Os presidentes brasileiros retribuíram o engajamento diplomático da China por meio de uma série de visitas significativas. Começou com Figueiredo em 1984, seguido por Sarney em 1988 e Cardoso em 1995, cada um reforçando a crescente parceria.

O presidente Lula fortaleceu ainda mais esse relacionamento com visitas em 2004 e 2009, e durante a sua primeira visita, a Comissão de Alto Nível para Coordenação e Cooperação Brasil-China (COSBAN) foi estabelecida. Rousseff continuou o ímpeto com viagens em 2011 e 2014. Mais recentemente, Bolsonaro em 2019 e Lula novamente em abril de 2023 mantiveram essa tradição, garantindo a aliança estratégica duradoura entre o Brasil e a China.

Foi durante esta última visita a Pequim em 2023 que o presidente Lula do Brasil solidificou ainda mais este vínculo, marcando um engajamento diplomático significativo que resultou na assinatura de vários acordos bilaterais, incluindo uma série de memorandos de entendimento (MoUs) cobrindo áreas como facilitação de comércio e cooperação em pesquisa e inovação. Naquela época, Xi Jinping buscou outro acordo, um endosso pelo Brasil da Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI), mas não conseguiu garanti-lo.

Isso ocorreu meses antes do endosso do BRICS 2023 à campanha do Brasil por uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU, algo que Lula procurou de Pequim durante o seu primeiro mandato e recebeu uma resposta chinesa insatisfatória. De facto, o governo de Lula sinalizou o seu descontentamento ao não implementar o comércio e o acesso ao investimento direto estrangeiro conforme prometido.

O Brasil está profundamente ciente do tremendo símbolo que um endosso da BRI significaria para a China no cenário mundial e buscará alavancar qualquer negociação para garantir acesso de mercado amplificado e previsível para os seus produtos agrícolas. Hoje, petróleo, minério de ferro e soja representam cerca de 75% do valor total exportado para a China, proporcionando amplas oportunidades para a diversificação do comércio brasileiro.

Um pilar crítico dessa diversificação de mercado gira em torno da proteína animal (carne bovina, de aves e suína), produtos de alto valor agregado nos quais o Brasil é altamente competitivo e compete com países como a União Europeia e os Estados Unidos.

A relutância do Brasil em aderir à BRI sem concessões significativas da China pode, em última análise, dar resultado. Essa estratégia é ousada e ambiciosa, mas pode levar a uma dessas situações win-win que a China frequentemente apregoa. Para Lula, tal acordo seria uma vitória política à medida que ele se aproxima da reeleição em outubro de 2026. Para Xi, que tem enfrentado tensões geopolíticas e geoeconómicas com a União Europeia e os Estados Unidos, garantir o endosso do Brasil daria um impulso muito necessário ao BRI e reforçaria o papel da China na liderança do Sul Global,

Desenvolvimentos recentes sugerem que o Brasil pode estar prestes a reconsiderar a sua posição. E o momento pode ser oportuno com os preparativos em andamento para a visita oficial de Xi ao Brasil em paralelo à Cimeira dos Líderes do G20 no Rio de Janeiro em novembro.

Por: Alvaro Mendez and Chris Alden (extractos)

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