Dentro ou fora de campo, da carreira como futebolista à vida pessoal: o ano de 2022 foi um dos mais cruéis a Cristiano Ronaldo desde que o gajo se tornou uma pessoa pública. Da perda de um filho ao derretimento do conto de fadas no Manchester United, finalizando com uma Copa do Mundo como reserva vendo seu grande rival em campo conquistar o maior título do futebol. Tamanha tempestade tem fim?
Até aqui, a situação pode melhorar no aspecto financeiro: segundo a imprensa europeia, o craque tem na mesa uma oferta astronômica do Al-Nassr. Receberia 200 milhões de dólares por temporada, num contrato de dois anos e meio como jogador e mais um prolongamento para atuar como embaixador da proposta da Arábia Saudita (junto a Egito e Grécia) para sediar a Copa do Mundo de 2030, em corrida contra propostas de Argentina/Uruguai e Portugal/Espanha/Ucrânia. Um montante que nenhum jogador de 37 anos viu na história do futebol até hoje.
Ir para o futebol saudita seria um golpe midiático forte na carreira de Cristiano, que pulou de gigante em gigante do futebol europeu ao longo de sua carreira: Manchester United, Real Madrid e Juventus. Mas a realidade do europeia já não tem mais permitido ao craque português encontrar grandes opções, seja no quesito esportivo ou no financeiro. Poucos são os clubes que bancariam a presença de um astro que hoje precisa que a ideia de jogo seja construída ao seu redor para render ao máximo.
Não foi sempre assim. O primeiro ano no retorno ao Manchester United, por exemplo, mostrou que o craque, então com com 36 anos, tinha lenha para queimar. Num time frágil, conseguiu tirar 18 gols da cartola e ser vice-artilheiro da Premier League. Mas um conflito com o técnico que chegaria na temporada seguinte aceleraria essa grande virada na reta final da carreira do português.
As desavenças entre Ronaldo e Erik ten Hag se originaram numa questão física, a ausência na pré-temporada. Mas se intensificaram num momento em que o técnico holandês tentava implementar um jogo mais intenso, com aplicação de pressão, algo que Ronaldo já não é capaz de entregar de forma plena por conta da idade, naturalmente. Mesmo que já tenha sido um fenômeno físico, está próximo dos 38 anos, que completa em fevereiro, jogando numa posição extremamente desgastante para exercer pressão sobre os adversários.
O problema se repetiu em Portugal, quando perdeu a vaga de titular nas oitavas para Gonçalo Ramos, um jovem de 21 anos que permitiu à equipe de Fernando Santos uma movimentação diferente em relação à que tinha com o craque como titular. Para tornar aquele dia mais marcante para CR7, o jogador do Benfica faria três gols numa histórica goleada por 6 a 1 sobre a Suíça.
Enquanto precisava se adaptar à nova situação, viu Messi, outrora seu grande rival no domínio do futebol mundial, viver grande competição, com 7 gols marcados e o título. Aos 35 anos, um ano mais novo que o português quando viveu sua última grande temporada. Pouca coisa nos números frios, mas fisicamente, uma diferença de idade abissal para aqueles mais próximos dos 40 que dos 30.
As reações de Cristiano arremataram e mostraram ao público o quão difícil para o craque vem sendo para o craque lidar com as frustrações e tristezas de 2022: a indisciplina (pouco comum na carreira) de se recusar a entrar em campo pelo Manchester United, a entrevista à revelia do clube a Piers Morgan na qual criticou o treinador, o destempero na Copa, o choro ao fim dela. Nos momentos em que precisou refletir ou pedir desculpas, usou as redes sociais.
“Sempre tentei ser exemplo para os mais jovens nos times que joguei. Infelizmente, nem sempre é possível e às vezes o calor do momento tira o melhor de nós”, postou, na época em que foi afastado do United por se recusar a entrar em campo.
Diretora da revista portuguesa “Visão”, Mafalda Anjos fez um preciso relato sobre a situação do jogador em coluna titulada “Não me atrevo a dar conselhos a Ronaldo. Mas apetecia-me dar-lhe um abraço”. No texto, a jornalista fala em tropeçar frente às câmeras, uma referência aos fotógrafos amontoados frente ao banco de reservas de Portugal registrando o craque em situação inédita na carreira, uma das imagens que marcaram a Copa do Catar.
“Captando cada esgar, cada sinal de frustração, cada engolir em seco, cada olhar aos céus a perguntar pela boa estrela que teima em não lhe assistir agora, no início do fim da sua espetacular carreira. Tentemos imaginar o que isto custa. Tentemos calçar as suas chuteiras de ouro. Falhar é sempre duro. Falhar lá de cima do pedestal é esmagador. Insuportável. Inimaginável”, escreve ela.
Fora dos campos, o craque passou longe de ter tempo de sarar a perda ainda no parto do filho Angel, um dos gêmeos que a parceira Georgina Rodríguez esperava, em abril. Nos próximos dias, precisará tomar uma decisão importante que também impactará a Georgina e os quatro filhos: submeter a família a uma nova mudança de cultura, abandonando de vez os principais palcos do futebol e assumindo uma posição central na propaganda saudita (de quebra, concorrendo contra a proposta do seu país)? Seguir no mercado em busca de uma provável última oportunidade na Europa, desgastando novamente sua imagem e virando um alvo ainda maior de críticas? Os últimos anos de CR7 em atividade passam pelos últimos dias do pior ano que viveu.
EXTRA
Por Vitor Seta