As manifestações de protesto que os partidos da oposição em Angola pretendem realizar contra os resultados eleitorais e a tomada de posse do Presidente da República podem ser uma mensagem ao Governo do MPLA no sentido de alterar a forma como tem governado o país, admitem analistas políticos ouvidos pela VOA.
UNITA, CASA-CE, PRS, FNLA e Bloco Democrático (BD) anunciaram na semana passada a sua intenção de organizar e convocar “manifestações como expressão do sentimento de repulsa dos cidadãos eleitores”.
O líder da Associação Mãos Livres, Guilherme Santos, considera que parte dessa mensagem já foi dada pelos eleitores “pelo número de abstenção dos eleitores que perderam a confiança nas instituições e a forma como os que elegeram expressaram a sua vontade, o que leva o próprio MPLA a reflectir”.
Santos defende que as manifestações anunciadas não serão repetidas nos próximos pleitos “se as instituições responsáveis pela gestão do processo respeitarem as normas e fazerem cumprir todas as regras do jogo”.
Aquele líder associativo diz, no entanto, tratar-se de um acto político que não terá quaisquer efeitos sobre os resultados eleitorais já reconhecidos pelo Tribunal Constitucional (TC).
“Não se espera muito disso, senão mais uma reivindicação de descontentamento em relação à decisão do TC”, conclui.
Por seu turno, o académico João Lukombo Nzatuzola é de opinião que se as reivindicações de rua forem efectivamente pacíficas terão “efeitos colaterais” sobre o próximo Executivo de João Lourenço “para ver o que é que se pode corrigir em relação a esta pressão”.
Os partidos subscritores documento afirmaram que “essas manifestações, com carácter estritamente pacífico e ordeiro e em coordenação com os Orgãos de Ordem Pública, enquadram-se no espírito da ordem constitucional, da lei e do interesse público”.
No comunicado, eles “manifestam a sua inquietação pelo facto de estar em curso um programa de investidura do Presidente e vice-Presidente da República, com datas marcadas e instituições publicamente envolvidas, sem a definitiva validação dos resultados eleitorais pelo Tribunal Constitucional, o que evidencia uma subordinação dos órgãos judiciais ao partido/Estado”.
O grupo criado devia ter apresentado até sábado um relatório“que merecerá discussão com as organizações da sociedade civil” e esclarecem que “essas manifestações, com carácter estritamente pacífico e ordeiro em coordenação com os órgãos de ordem pública, enquadram-se no espírito da ordem constitucional, da lei e do interesse público”.
Entretanto, o porta-voz do MPLA, Rui Falcão foi citado em Luanda como tendo dito que a convocação de manifestações pelos partidos da oposição angolana é um “comportamento reiterado de mau perdedor”.
Aquele dirigente do partido no poder acusou a oposição de alegadamente não saber estar na democracia “e isso é visível no comportamento de cada um, então nós não temos de ter essa preocupação.
“Nós temos uma maneira diferente de estar em democracia e é isto que nos diferencia”, disse Rui Falcão, que também minimizou a presença ostensiva de militares e polícias nas ruas.