Zonas diamantíferas vão passar a fazer lapidação. Objectivo é dar valor a um sector crucial da economia angolana
Pela primeira vez na história de Angola, a lapidação de diamantes vai passar a ser feita directamente a partir das zonas de exploração situadas a leste do país, nas zonas diamantíferas das Lundas.
Entregue à Dialap e à Diagal, as duas casas que, localizadas em Lisboa, em associação então com a Diamang, antecessora da Endiama, no tempo colonial se dedicavam à classificação, avaliação e lapidação de diamantes, este segmento em Angola ficará agora sob a alçada de quatro fábricas locais.
“Angola exporta grande parte da produção de diamantes em bruto, ou seja, sem acréscimo de valor, mas agora a nossa meta é fazer com que 20% da produção passe a ser lapidada internamente”, revelou ao Expresso o ministro dos Petróleos e Recursos Minerais, Diamantino Azevedo.
Com esta mudança, para trás fica o monopólio que, depois da independência, passou a ser detido pela De Beers, através da canalização do diamante angolano em bruto para o estrangeiro para ser lapidado em mercados como a Índia, Israel, Bélgica ou EUA.
Com esta nova estratégia, as autoridades põem fim à política de venda preferencial a operadores que no passado eram devidamente selecionados e protegidos.
Luanda abre, assim, portas à venda direta no mercado livre, por parte dos produtores, de 60% da sua produção, enquanto os restantes 20% serão comercializados pela Sodiam — Sociedade de Comercialização de Diamantes de Angola.
Com esta aposta, que representa uma resposta a um dos desafios do programa de Governo de João Lourenço, Angola dá um passo decisivo na construção de uma nova cadeia de valor na indústria diamantífera, com o regresso ao mercado, a partir da indústria de lapidação, de um segmento de negócios que esteve adormecido praticamente desde a independência: a joalharia.
A entrada em actividade, na Lunda-Sul, destas quatro primeiras fábricas está inserida no Polo de Desenvolvimento Diamantífero de Saurimo, a antiga cidade de Henrique de Carvalho. O polo terá como principal gestor a Sodiam.
Com a sua inauguração pelo Presidente angolano, João Lourenço, segundo disse ao Expresso fonte da administração da Sodiam, “estão reunidas as condições para complementar os projetos de investimentos, reduzir os custos dos investidores e criar novas oportunidades para a expansão de negócios em Angola e nesta região”.
Trata-se de um gigantesco empreendimento, que custou aos cofres públicos, através da Sodiam, 103 milhões de dólares e cujas obras de construção estiveram a cargo da empreiteira angolana Engevia.
Durante um ano e nove meses, numa extensão de 300 m2, a Engevia ergueu um vasto hub, repartido em duas grandes áreas, que visa congregar empresas relacionadas com a economia mineradora com foco na cadeia de valor dos diamantes, oferecendo uma infraestrutura necessária ao seu fomento e dinamização.
A zona comercial comporta um centro de convenções com capacidade para 300 pessoas, dois centros de formação técnico-profissional, três edifícios comerciais, edifício de alojamento, restaurantes, bancos, repartições fiscais e um posto médico.
“Um dos centros, virado para a classificação e avaliação de diamantes, pertence à Sodiam e o outro centro, especializado em gemologia, geologia, estudos e projectos, está sob a gestão da Endiama”, esclareceu fonte do polo.
Já a zona industrial absorverá fábricas de lapidação e 26 lotes diferentes destinados à instalação de diversas indústrias de mineração de pequena, média e grande dimensão. A Sodiam e a Endiama detêm duas fábricas de lapidação e as restantes são investimentos de indianos e europeus.
A criação do Polo Industrial de Saurimo não é o único elemento de mudança a ter influência nas regiões produtoras de diamantes. A transferência para a Lunda-Sul da sede da Endiama Mining — o braço operacional da Endiama — está a provocar igualmente um impacto significativo no envolvimento das populações locais na retoma da produção de diversos projectos.