Não percebi porquê que Adão de Almeida (AA) ignorou o facto da actual Constituição ter sido boicotada pelo maior partido da oposição, a UNITA, que em sinal de protesto abandonou a sala na sessão solene da sua aprovação, não tendo por isso participado na votação final do actual texto.
Em termos de acta final não sei como é que ficou lavrado o documento que foi publicado no Diário da República (DR), mas não me parece que seja muito aceitável ouvir AA repetir até à exaustão que a actual Constituição tem uma grande legitimidade como resultado do seu processo de elaboração.
Ignorar este incidente final que foi marcadamente político e as suas consequências para a legitimidade do texto é no limite uma cortina de fumo que o jornalismo não devia acompanhar em nome da verdade dos factos.
Contrariando frontalmente todo o marketing político de AA em prol da Constituição da República de Angola (CRA) 2010, tenho para mim que a actual Constituição foi feita no quadro de uma estratégia político-partidária bem precisa que só não percebe quem anda muito distraído ou percebendo não quer dizer mais nada porque está de acordo com o objectivo maior desse modelo que é evitar, a todo o custo, a alternância política.
Na verdade, o principal traço do atipismo desta constituição, está no “minimalismo” com que os representantes dos órgãos de soberania são eleitos todos, de uma só vez e na mesma lista.
Poder ser eleito para o topo do Estado/República e do Poder Executivo “disfarçado” de cabeça de uma lista de futuros deputados, com menos de 50% dos votos expressos e a uma volta, é de facto uma “fórmula mágica” que está a ser testada em Angola, aparentemente, com bastante sucesso pois, e até ver, o sistema até está a funcionar com uma maioria qualificada.
Reginaldo Silva | In Facebook