Os especialistas garantem que “não existe uma quantidade de combustível suficientemente alta para gerar aquelas colunas de fumo se aquilo for apenas limpeza de pasto, por exemplo”.
Cientistas da NASA que monitorizam focos de incêndio no planeta afirmam que os seus dados sobre o Brasil corroboram os valores indicados pelo Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais brasileiro (Inpe), acrescentando que estão relacionados com a desflorestação.
Numa entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, citado pela TSF que aponta a Lusa como fonte, Douglas Morton, chefe do Laboratório de Ciências Biosféricas do Centro Goddard de Voo Espacial da Agência Espacial Norte-Americana (NASA, em inglês), declarou ter visto sinais de que a desflorestação no Brasil está a aumentar, sendo possível relacionar os focos de incêndio com os cortes de árvores na região.
“Há dez dias, olhei as imagens dos nosso sensores dos satélites em órbita e eles mostravam claramente os focos de calor separados, com colunas enormes colunas de fumo a sair das daquelas áreas da fronteira agrícola, como na região de Novo Progresso, no Pará, e no sudeste do estado do Amazonas”, afirmou Morton ao jornal brasileiro.
“Não existe uma quantidade de combustível suficientemente alta para gerar aquelas colunas de fumo se aquilo for apenas limpeza de pasto, por exemplo”, acrescentou o especialista.
Douglas Morton afirmou ainda que é preciso recuar ao período entre 2002 e 2004 para que os satélites da NASA sobre a Amazónia tenham registado um cenário semelhante, quando a desflorestação anual estava acima dos 20 mil km² por ano.
Porém, numa nota divulgada pelo site Earth Observatory da NASA, a Agência Espacial Norte-Americana refere que os números de incêndios na Amazónia referentes a este ano se assemelham à média dos últimos 15 anos.
“A partir de 16 de agosto de 2019, uma análise dos dados de satélite da NASA indicou que a atividade total de incêndios na bacia amazónica neste ano esteve próxima da média em comparação com os últimos 15 anos”, escreveu a NASA, numa nota editada na quinta-feira.
“Muitas pessoas usam o fogo para manter terras cultiváveis e pastagens ou para limpar a terra para outros fins. Normalmente, o pico de atividade é em setembro e pára em novembro”, acrescentou a agência espacial.
Morton confirmou à Folha de S. Paulo que a declaração da NASA está correta, por ser uma média, o que inclui anos em que os números foram muito elevados. No entanto, refere que não pode ser negada uma tendência de subida na desflorestação.
O número de incêndios no Brasil aumentou 83% este ano, em comparação com o período homólogo de 2018, com 72.953 focos registados até 19 de agosto, sendo a Amazónia a região mais afetada, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) brasileiro.
A Amazónia é a maior floresta tropical do mundo e possui a maior biodiversidade registada numa área do planeta.
Tem cerca de 5,5 milhões de quilómetros quadrados e inclui territórios do Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa (pertencente à França).
O Presidente francês, Emmanuel Macron, apelou para que os incêndios na Amazónia sejam discutidos na cimeira do G7, que se realiza este fim de semana, em Biarritz, sudoeste de França, por se tratar de uma “crise internacional”.
Participam na cimeira os líderes da Alemanha, Canadá, Estados Unidos da América, França, Itália, Japão e Reino Unido.
Também o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, se mostrou “profundamente preocupado” com os incêndios numa das “mais importantes fontes de oxigénio e biodiversidade”, referindo que a Amazónia “deve ser protegida”.
Ainda segundo o Inpe, a desflorestação da Amazónia aumentou 278% em julho, em relação ao mesmo mês de 2018.