Cerca de um milhão de toneladas de bombó são produzidos, anualmente, na província do Moxico, e comercializados pelo país, com realce para a região Sul e Norte de Angola, soube hoje a ANGOP, no Luena.
A produção do bombó, resultante da transformação da mandioca, foi impulsionada pelas 17 cooperativas agrícolas que beneficiaram de crédito bancário, no âmbito do PRODESI (Programa de Apoio à Produção, Diversificação das Exportações e Substituição das Importações).
Cada uma dessas cooperativas recebeu entre 10 a 30 milhões de kwanzas, no quadro do PRODESI, uma iniciativa do Governo Angolano que visa consolidar a diversificação da economia e o incentivo à produção interna.
Dados oficiais do Gabinete Provincial da Agricultura, a que a ANGOP teve hoje acesso, coloca Moxico no ranking das quatro províncias do país que mais produzem a mandioca, com uma cifra que varia entre 900 a um milhão de toneladas por ano.
A ANGOP constatou que o mercado do Cawango, a sul da cidade de Luena, é o principal centro de venda do bombo, congregando, diariamente, compradores de várias províncias do país, com destaque para os de Luanda, Benguela, Namibe, Huambo, Bié, Lunda Sul e Norte.
O aumento da produção do bombó transformou a província num ponto de referência no comércio deste produto, com dezenas de vendedoras de várias regiões que se deslocam à esta região, para adquirir e revender o bombo em outras partes do país.
Em declarações à ANGOP, a comerciante Angelina Sombo, 38 anos, proveniente da província do Namibe, disse que vende o bombo há já três anos, comprando, mensalmente, 60 sacos (nove toneladas) de 150 quilogramas (kgs), por 14 mil kwanzas, e os revende a 45 mil kwanzas, cada saco, nas cidades do Lubango (Huila) e Moçâmedes (Namibe).
Justificou que torna o preço da venda quatro vezes maior do que a compra (14 mil a 45 mil kwanzas) para ter lucros devido aos “altos custos” com transporte de mercadoria, feito por via do comboio até à cidade do Cuito (Bié) e de camiões aos destinos da venda (Namibe e Huila).
“Sou solteira e o dinheiro proveniente deste negócio serve, fundamentalmente, para custear os estudos de quatro filhos matriculados num dos colégios de Moçâmedes e pagamento da renda de casa”, afirmou.
Por sua vez, Lurdes Manuela, natural da Lunda Sul, preteriu o mercado do Dilolo, comuna da província congolesa de Lualaba, aonde comprava o bombó para os revender em Saurimo.
Em parceria com uma amiga, passou a comprar, mensalmente, entre 150 a 200 sacos de bombó, de 150 kgs, do Moxico para os vender em Saurimo (Lunda Sul), por possuir melhor qualidade.
Apesar disso do saco de bombó subir de quatro mil para 14 mil kwanzas, considerou rentável o negócio, uma vez que revende o produto a um preço de 22 mil kwanzas, por saco, sendo que, paga até mil e 500 kwanzas para o transporte.
Já Marcelino Nzinga, do Uíge, um dos poucos comerciantes do sexo masculino que a ANGOP constatou no mercado kawango, disse que adquiri uma média de quatro toneladas por mês, para os comercializar em Luanda, nos mercados do Kikolo e do 30, a um preço de 25 mil kwanzas por cada 150 quilogramas.
Disse que esta é uma oportunidade que encontrou para tornar-se auto-sustentável e ajudar a sua família.
Entretanto, o gerente de um dos vários armazéns existentes no mercado, Augusto Fulai, disse que, diariamente, os comerciantes retiram daquele estabelecimento mais de 100 sacos de bombó, que são despachados para as outras regiões.
Beneficiário do PRODESI defende mais apoios
Bendito Muhusso, um dos empreendedores beneficiários do crédito no quadro do PRODESI, defendeu mais incentivos aos pequenos agrícolas, com vista a se aumentar o nível de produção de diversos bens na região.
Outra preocupação levantada por este economista, é a urgente necessidade da reabilitação das estradas intermunicipais, para facilitar o escoamento dos produtos do campo à cidade de forma mais segura, evitando prejuízos com a deterioração dos alimentos.
“O apoio aos camponeses não se traduz apenas em transferência de dinheiro, mas é, fundamentalmente, a criação de condições, da parte do Estado, para que os produtores e empresários, por si só, consigam caminhar”, defendeu.
Primeira fábrica de bombó emprega 300 jovens
Com vista a se tirar maior proveito desta produção, a província vai contar, brevemente, com a primeira fábrica de transformação da mandioca para fuba de bombó.
A aposta neste ramo é da empresa chinesa “Liu Jianguang Comércio e Prestação de Serviços (SU) LDA”, que investiu 100 mil dólares norte-americanos, para operacionalizar a transformação de produtos alimentares na região.
A referida indústria, numa primeira fase, vai produzir a fuba de bombo, posteriormente a de milho.
De acordo com o supervisor da referida empresa, Hortêncio Cassemene, o funcionamento da indústria, com capacidade de produzir 30 toneladas diárias de fuba de bombó, está aguardando a certificação do Ministério da Agricultura e Pescas.
Disse que foram enviadas amostras em laboratórios na capital do país (Luanda), com vista a avaliar a qualidade do produto e garantir maior segurança aos consumidores na aquisição do alimento.
Conforme o responsável, após a certificação do projecto, a fuba vai começar a ser empacotada e vendida nas superfícies comerciais da região.
Para assegurar o funcionamento, o projecto vai envolver cerca de 300 trabalhadores, que vão actuar na operacionalização das máquinas, área administrativos, para além de recolher a mandioca das lavras para o estaleiro.
Disse que a aquisição da matéria-prima (mandioca) vai ser efectuada por via de contratos com pequenos agricultores e cooperativas agrícolas, que vão vender o produto a esta empresa.