Foi-se um grande felino, um ícone do cinema mundial, um actor intuitivo, Alain Delon, o actor de “Plein soleil” e de “Samouraï”, deixou-nos este domingo aos 88 anos de idade.
O falecimento anunciado em conjunto à agência de notícias AFP, pelos seus três filhos Alain Fabien, Anouchka e Anthony, colocou igualmente um ponto final a meses de polémicas familiares entre si.
“Monsieur Klein ou Rocco, Le Guépard ou Le Samouraï, Alain Delon encarnou papéis lendários e fez o mundo inteiro sonhar, emprestando o seu rosto inesquecível que virou as nossas vidas do avesso”, reagiu no X, o presidente Emmanuel Macron, que saudou “um monumento francês”.
“Alain Delon já cá não está. Acreditávamos que era imortal por ter tido várias vidas”, publicou no X Rachida Dati, ministra demissionária da Cultura, estimando que ele “deixa(va) a França órfã da sua mais bela encarnação nos ecrans”.
Cada vez mais raro no cinema, sobretudo a partir do final da década de 90, o actor esteve presente em Cannes em Maio de 2019, para receber uma Palma de Ouro de Honra, entre lágrimas e discursos em tom de testamento: “é um pouco como uma homenagem póstuma, só que comigo em vida”, tinha na altura declarado Alain Delon.
– Notas de acordeão –
“Partirei, mas não sem antes agradecer-vos”, acrescentou Alain Delon que viveu os seus derradeiros anos na sua propriedade de Douchy, na região do Loiret, onde tinha há muito planeado ser enterrado.
Algumas notas de acordeão soavam à entrada do domínio, tocadas por “Titi, o acordeonista”, de chapéu branco sobre a cabeça, que tinha conhecido Alain Delon na Sociedade francesa de produção e, a quem este pediu que no dia da sua morte, fosse tocar acordeão.
“Terminou o baile. Tancredi foi-se, bailar com a estrelas…”, reagiu Claudia Cardinale, sua parceira no filme “Le Guépard”, numa mensagem transmitida à agência AFP.
– Tarantino, John Woo, …. –
Longe de actores considerados mais “cerebrais”, Delon era um instintivo genial, que se orgulhava de não precisar de trabalhar na sua técnica como actor, recorrendo apenas ao seu carisma, que era uma mistura de “beleza incandescente” e de frieza.
Um estilo que fez de Delon o verdadeiro mito em que se transformou, bastante solicitado pelos cineastas, igualmente pelas suas características de “honra viril e sisuda”, muitas vezes obrigado a lutar só contra forças que o ultrapassavam.
Um personagem arquetípico que inspirou realizadores do mundo inteiro, tais como John Woo, de Hong Kong, e o norte-americano Quentin Tarantino, sem que no entanto o francês tenha precisado de singrar em Hollywood.