A cantora e compositora angolana Garda, 92 anos, uma estrela na cena musical do seu país na década de 1950, como foi definida, morreu hoje no Hospital de Faro, disse à agência Lusa fonte próxima da família.
Garda, que editou o seu primeiro disco em 1957, vivia atualmente em Vilamoura, no Algarve, “afastada da vida artística” e “sofreu um acidente vascular cerebral no [passado] sábado”, tendo falecido hoje de manhã, segundo a mesma fonte.
O primeiro álbum de Garda foi editado em Portugal em 2011, mais de 50 anos depois de ter gravado o primeiro EP, pela discográfica Valentim de Carvalho (VC).
O editor discográfico da VC, Francisco Vasconcelos, disse na ocasião à agência Lusa que o álbum de Garda constitui o “achar de um elo perdido da música popular angolana”.
Garda, de seu nome de registo Ildgarda Oliveira, “encapsulou num tempo anterior à pop, ao canto de autor, à eletrónica; não mudou, daí o seu registo ser tão precioso”, disse.
“O imaginário de Garda é o da música latino-americana, do samba, da canção brasileira e italiana. Ângela Maria é uma das suas heroínas”, afiançou Vasconcelos então.
“Garda foi uma estrela em Angola, e é uma estrela, isso nota-se hoje. Tem uma forte presença e uma história de vida que a torna inultrapassável”, sublinhou o responsável da VC, em 2011.
Na altura, pouco antes de completar 80 anos, Garda voltou a estúdio para gravar aquele que ficou o seu primeiro e único álbum no qual incluiu vários temas da sua autoria, mas também de Dolores Duran, Mingo Rangel, Herivelto Martins, e de alguns autores que se perderam na memória do tempo, identificados como “Direitos reservados”.
Francisco Vasconcelos afirmou que a própria Garda, como criadora, “mistura por vezes as músicas e as letras, umas letras que são de outras músicas e que ela adapta e por aí fora”.
A cantora e compositora manteve-se desconhecida do grande público ao longo de mais de 50 anos, e “passou ao lado de uma carreira como tiveram os Duo Ouro Negro”, apesar de ter sido a primeira angolana a gravar um disco.
Garda atuou em Portugal em 1957, numa festa da família Espírito Santo, em Cascais, em que a cabeça de cartaz foi Marino Marini, e “foi uma excitação”, contou Vasconcelos.
“Alguém da VC estaria nessa festa e convidou-a para gravar, depois daí perdemos-lhe o rasto. A discográfica ainda não tinha escritórios em Angola e ela continuou a ser uma estrela em Angola”, disse.
A editora reencontrou “a estrela” por insistência de uma arquiteta fascinada pela voz e a sensibilidade musical de Garda.
“Uma arquiteta veio ter connosco, afirmando que a senhora tinha um disco gravado na Valentim [de Carvalho]. Nós nem fazíamos ideia que existia, e ela própria tinha umas maquetas que ouvimos, e depois foi reencontrar este elo perdido”, contou Vasconcelos.
Na ocasião, Francisco Vasconcelos referiu o “desafio” que foi gravar com Garda pois era “muito exigente” do ponto de vista musical.
A gravação levou cerca de três anos, com uma mudança de produtor no início do projeto. No final Francisco Vasconcelos garantiu: “Valeu a pena. Garda tocou cada um dos que participaram e foi fascinante”.
Garda atuava, regularmente, em 2011, em festas e bares, e tinha projetado uma carreira bem diferente, a de violinista, mas era apontada como “uma estrela natural sem nunca ter cultivado isso”.
Garda iniciou os seus estudos musicais em Luanda, e desde cedo começou a atuar ao vivo em conjunto com o seu pai e irmãos, antes de se fixar em Lisboa.
Por LUSA