Angola é o país mais reformista de África ao longo dos últimos cinco anos, considerou Aurelien Mali, o analista principal da economia angolana da agência Moody’s, na mesma semana em que a companhia de rating reviu em alta a previsão de crescimento do país, este ano, de 1,2 para 2,7 por cento.
“Entre a maioria dos países africanos, Angola é, provavelmente o país que fez mais reformas estruturais nos últimos cinco anos, disse Aurelien Mali citado ontem pela agência Lusa, apontando a consolidação orçamental, nova Lei do Orçamento, introdução do IVA e os ajustamento das finanças públicas como exemplos.
Questionado sobre se as reformas não vão motivar uma subida do rating do país, que foi cortado duas vezes no ano passado, o analista respondeu que “é preciso ver como será a realidade” e sublinhou que, “para já, os riscos reflectidos no rating estão equilibrados e três meses de ambiente positivo é pouco para mudar” a avaliação sobre a qualidade do crédito soberano de Angola.
Aurelien Mali concordou que Angola não deverá ter necessidade de procurar alívio da dívida para além da Iniciativa de Suspensão do Serviço da Dívida (DSSI) e apontou que a economia angolana está numa situação muito diferente da posição da Zâmbia, Etiópia e Chade, que pediram a adesão ao enquadramento comum para tratamento da dívida para além do DSSI.
“A situação de Angola é muito diferente da situação deste país; [as descidas de rating] não foram uma questão de solvência, foi principalmente um problema de pressão na liquidez externa e as autoridades negociaram uma reestruturação da dívida no valor de sete mil milhões de dólares com um credor na China nos próximos dois anos e meio a contar de Junho de 2020”, lembrou o analista.
“Quando se olha para o serviço da dívida externa e o pacote de ajuda financeira das instituições financeiras internacionais e tendo em conta o ajustamento que o país já fez, isso mostra que há caminho possível para o país não precisar de alívio da dívida ao abrigo do enquadramento comum”.
Questionado sobre a subida do rácio da dívida pública face ao PIB para cerca de 100 por cento, o analista contrapôs que “a dívida medida em dólares desceu nos últimos três anos, passando de 75,3 mil milhões de dólares, em 2017, para 65 mil milhões no final do ano passado”.
No passado, notou, “o Governo gastava 40 a 45 por cento do PIB [para pagar a dívida externa] e agora gasta 20 por cento do PIB e, apesar do impacto externo do choque petrolífero nas finanças públicas, tiveram um défice de 1,7 por cento do PIB. Por isso, o Governo tem demonstrado capacidade para ajustar as finanças públicas ao choque”.
A situação económica pode melhorar ainda mais, prevê o analista que considera que, “com o preço orçamentado para o petróleo este ano nos 39 dólares, se houver um período com um preço estável acima disso, a situação deve melhorar significativamente e um indicador importante é o nível de reservas”, além de que “a taxa de câmbio melhorou cerca de 10 por cento desde Dezembro”, fazendo prever uma maior disponibilidade de dólares.
Retoma prevista para este ano
Aurelien Mali afirmou que a revisão do crescimento em alta, de 1,2 por cento, em Setembro, para 2,7, está sustentada no facto do preço do petróleo ter estado a subir desde o nível mais baixo de 2020, prevendo-se um preço médio de 50 dólares por barril este ano, o que significa que se cumprido e se a produção se mantiver nos 1,2 ou 1,3 milhões de barris por dia, “isso vai sustentar o crescimento económico”.
A receita adicional que o Governo vai receber tendo em conta a evolução do preço do petróleo face ao preço previsto no Orçamento pode melhorar as contas públicas, permitindo limpar a dívida atrasada ou apoiar as reservas internacionais, apontou o analista.
A fonte manifestou também optimismo quanto à inflação, que “deve começar a descer no final deste ano e a estabilização cambial pode levar a uma queda muito significativa do rácio da dívida sobre o PIB”.