Organizações da sociedade civil moçambicana dizem estar a trabalhar para encorajar as vítimas a denunciar o aumento de casos de abuso sexual durante a pandemia. Administração da Justiça reforçou as campanhas de alerta.
Uma jovem de 18 anos que preferiu não revelar o nome disse à DW África que por causa do confinamento relacionado com a Covid-19 foi violada várias vezes pelo tio. A adolescente nunca apresentou queixa às autoridades por medo de represálias.
“A minha família, quando descobriu, achou que fosse mentira ou brincadeira. O primeiro a descobrir foi o meu avô, porque nos encontrou”, conta.
O caso desta jovem não é o único. Rufaida Abdul, residente em Maxixe, diz que um dos seus vizinhos engravidou a própria neta. Segundo esta cidadã, o ancião fazia-se acompanhar pela menor quando ia para pesca durante a noite, altura em que abusava sexualmente da criança.
“Todos os dias, ele acorda a neta e vai com ela à praia. É naquele momento que ele se aproveita dela”, lamenta.
Arteonesa Sambo, presidente da Associação Txivuno Txavanana, que engloba algumas organizações não-governamentais em Inhambane, confirma que os casos de violação e agressão sexual têm aumentado desde o início da pandemia da Covid-19, embora as raparigas tenham medo de denunciar os violadores.
“Não querem denunciar, porque podem sofrer represálias. Nas [acções de] sensibilização nas comunidades e escolas, [dizemos] a essas raparigas para não terem medo de denunciar estes casos”, refere Arteonesa Sambo, acrescentado que a associação está a disponibilizar protecção para as vítimas.
“É preciso que as famílias olhem para as raparigas como o futuro do nosso país”, frisa.
Governo não revela dados
Graça Arnaldo, chefe do departamento de atendimento à família e menores vítimas de violência no comando provincial em Inhambane, não comenta o aumento de casos de abuso sexual em Inhambane, nem revela a existência de dados oficiais.
No entanto, a responsável admite que a instituição está a aproveitar os meios de comunicação social para divulgar mensagens e linhas verdes para promover a denúncia deste tipo de crimes.
“O que estamos a fazer agora é aproveitar as nossas rádios comunitárias existentes ao nível dos distritos, as nossas televisões e também principalmente os mercados”, indica.