Alguns analistas políticos moçambicanos dizem que a continuação de acções terroristas em alguns distritos de Cabo Delgado poderá frustrar o desejo do Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, de o país iniciar, em Outubro próximo, a exportação de gás natural liquefeito, a menos que haja um maior investimento sobretudo no patrulhamento da costa moçambicana.
O Presidente Filipe Nyusi diz que a exportação do gás natural liquefeito, produzido na Bacia do Rovuma, na província de Cabo Delgado, palco de ataques terroristas, “vai começar a partir de Outubro deste ano, sendo o prelúdio de desenvolvimento futuro, onde Moçambique desempenhará um papel importante para a segurança energética de vários países do mundo”.
Ante a realidade actual, o analista político Lucas Ubisse diz ser necessário encarar esta questão com muita prudência, uma vez que ainda ocorrem ataques terroristas em alguns distritos de Cabo Delgado.
“É verdade que neste momento, as acções terroristas ocorrem, fundamentalmente, nos distritos de Nangade e Macomia, que ficam longe dos locais de gás, mas isso não significa que não possam ocorrer também ataques em Palma e Mocímboa da Praia, que ficam na zona do gás”, realça aquele analista.
No seu entender, esses ataques, sem serem uma ameaça directa ao projecto de gás,” o simples facto de ocorrerem na zona, cito, não são boas notícias para o desenvolvimento do projecto de gás, uma vez que isso causa intranquilidade, conhecidas as fragilidades que existem sobretudo ao longo da nossa costa”.
A petrolífera francesa Total, que lidera o projecto bilionário de gás natural em Cabo Delgado, suspendeu as suas operações em Palma, na sequência do ataque terrorista de 24 de Março de 2021 à sede daquele distrito.
Adriano Nuvunga, director do Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD), diz que vai ser necessário um grande investimento na área de segurança em Palma e acredita que não vai ser difícil mobilizar os parceiros para esse objectivo “porque Moçambique vai-se tornar uma potência energética regional, e isso interessa aos países da região, que irão beneficiar do gás”.
Mas para o economista e director executivo do Observatório do Meio Rural, João Mosca, independentemente dessas oportunidades que se oferecem, o país precisa de investir, fortemente, nas suas forças armadas e realça que “já se revelou que nem a Marinha de guerra nem a Força Aérea moçambicanas têm recursos suficientes para as suas actividades”.
Contudo, Egna Sidumo, docente universitária e especialista em assuntos de segurança, entende que o projecto de gás natural liquefeito em Cabo Delgado, poderá arrancar no prazo projectado pelo Governo, uma vez que os ataques que ocorrem em Nangade e Macomia não constituem uma ameaça, “tanto que mais que empreendimentos desta natureza, envolvem fortes medidas de segurança”.